segunda-feira, 6 de junho de 2011

A libélula que veio no frio

A libélula que veio no frio
A Anax ephippiger (Burmeister, 1839), parente da mais conhecida Anax imperator (Leach, 1815) que faz parte da paisagem no Verão, voando sobre lagos e rios. A Anax ephippiger é um Aeshnideo tropical algumas vezes colocado no género Hemianax. Com uma distribuição algo alargada, vai do mediterrâneo à Índia, colonizando ilhas oceânicas no Índico e penetrando na Europa, com registo para a Islândia. É presença assídua no Algarve e costa alentejana, e sabe-se que pelo menos esporadicamente se reproduz em Portugal.
Tem um ciclo mais curto de vida larvar do que a generalidade das suas congéneres, de 2 e ½ a 4 meses, e utiliza muitas vezes charcos temporárias para se reproduzir, estando assim equipado para ser um colonizador de novos habitats. A norte do rio Tejo tem registos ocasionais e por vezes em épocas aparentemente desconcertantes.
É assim que se vão encontrando indivíduos desta espécie a voar em pleno Inverno.
As últimas observações foram em Janeiro deste ano quando o autor observou vários exemplares (7 no total), fotografando alguns deles. Estes encontros deram-se nos dias 19, 21 e 24 desse mês, no Parque da Cidade do Porto e nas dunas do Mindelo, quando as temperaturas oscilavam entre os 0°c nocturnos e os 10°c à uma da tarde, tudo indicando que se tratava de indivíduos errantes, de passagem. O que para muitos de nós pode ser uma visão desconcertante, como observar uma libélula a voar contra o vento litoral norte numa manhã fria de Janeiro, é um testemunho da espantosa adaptabilidade destes insectos ao meio e uma visão magnífica para desenjoar da monotonia invernal. Apesar do carácter especial desta novidade do início do ano, surgem agora os melhores momentos para apreciar este grupo de insectos, até porque estão já a aparecer as primeiras do ano no estado adulto, altura em que batem as asas e evidenciam comportamentos assaz interessantes.
Enriqueça os seus passeios na natureza quando deparar com estes e outros animais, em nada menos interessantes do que um elefante ou um leão em África.

Albano Soares – Parques e Vida Selvegem

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