quarta-feira, 24 de abril de 2013

Alimentos para viver mais

 
 
Enquanto não descobrem o elixir da juventude, há alguns alimentos que os estudos e os especialistas sugerem ajudar a prolongar a vida, de uma forma mais saudável.

O nosso tipo de alimentação tem bastante influência tanto nos anos em que vivemos, como na qualidade de vida que possuímos. Uma má alimentação pode levar ao desenvolvimento de doenças que, dependendo da gravidade, podem levar a uma morte precoce. Deixamos aqui alguns alimentos que o/a podem ajudar a viver mais e melhor.
Aveia
Ajuda a diminuir o colesterol mau o LDL. Ganhou o selo de redutor do risco de doenças cardíacas da FDA, agência americana de controlo de alimentos e remédios.
Alho
Reduz a tensão arterial e protege o coração ao diminuir a taxa de colesterol ruim e aumentar os níveis de colesterol bom, o HDL. Pesquisas indicam que pode ajudar na prevenção de tumores malignos.
Azeite
Auxilia também na redução do LDL. A sua ingestão no lugar da margarina ou manteiga pode reduzir até 40 por cento o risco de doenças do coração.
Castanha-do-pará
Assim como a noz, os pistácios e a amêndoa, também auxilia na prevenção de problemas cardíacos. Também ganhou o selo de redutora de doenças cardiovasculares da FDA.
Chá verde
Auxilia na prevenção de tumores malignos. Estudos indicam ainda que pode diminuir as doenças do coração, prevenir pedras nos rins e ajudar no tratamento da obesidade.
Maçã
Ajuda a prevenir tumores malignos. O consumo regular de frutas variadas auxilia na redução de doenças cardíacas e da pressão sanguínea, para além de evitar doenças oculares como cataratas.
Peixes
Os peixes ricos em ómega 3, como a sardinha, o bacalhau e o salmão, são poderosos aliados na prevenção de enfartes e derrames. Estudos indicam também que reduzem as dores de artrite, melhoram a depressão eprotegem o cérebro de doenças como Alzheimer.
Soja
Ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares, segundo a FDA. O seu consumo regular pode diminuir os níveis de colesterol em mais de 10 poe cento. Há indicações de que também ajuda a amenizar os incómodos da menopausa e a prevenir o cancro da mama e do cólon.
Vinho tinto
A uva vermelha, presente no vinho ou no sumo, ajuda a aumentar o colesterol bom e evita a acumulação de gordura nas artérias, prevenindo doenças do coração.

Fonte: saúde em primeiro lugar.com 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Aluno da UC vence concurso

João Rito desenvolve um projecto
para utilização glicerol na dieta alimentar dos peixes

2013-04-08
Por Sara Pelicano
A ideia é reduzir em 5% (numa primeira fase) a dose de proteína na dieta alimentar de peixes de aquacultura, nomeadamente dourada, robalo e pregado. Com esta mudança alimentar, João Rito, o autor da ideia, acredita que haverá uma redução dos custos de produção e também melhorias ambientais.
O trabalho está a ser desenvolvido no âmbito do doutoramento na Universidade de Coimbra. “Vi o concurso da Sociedade Mundial de Aquacultura, que queria que alunos de mestrado e doutoramento submetessem um projecto que visasse tornar a aquacultura numa indústria mais sustentável”, explica João Rito.

João apresentou o seu projecto de substituição de 5% de proteínas da dieta alimentar por glicerol e venceu. “A aquacultura é um poluente porque os peixes libertam componentes tóxicos, como a amónia e fósforo. As dietas alimentares são ricas em proteínas, porque os peixes, na sua maioria, são carnívoros e as proteínas são essenciais. Nesta experiência tentamos reduzir 5% a percentagem de proteína. Parece pouco, mas em grande escala vamos reduzir muito. A proteína é um dos alimentos mais caros, reduzindo a proteína, vamos reduzir os custos de produção. Substituir a proteína por glicerol, que está muito disponível na indústria de biodiesel, onde é um subproduto, que ainda não tem destino traçado. À partida é mais barato, assim reduzem-se custos de produção”, explica o jovem investigador.

Este método de alimentação dos peixes carnívoros em aquacultura pode também trazer benefícios ambientais. João Rito explica que “o metabolismo das proteínas contamina o ambiente com a amónia e fósforo, ao reduzir a proteína nas dietas alimentares reduzimos a sua produção e libertação daqueles componentes para o ambiente”.

Além do prémio monetário de mil dólares, João vai, em Junho, estagiar por um mês no Centro de Investigação da NOVUS - Novus Aqua Research Center, na Cidade de Ho Chi Minh, Vietname.

“O objectivo é ter contacto com projectos já a decorrer no centro. O Vietname é o terceiro maior produtor de aquacultura a nível mundial, as características ambientais são muito propícias a isso e trabalhar numa das maiores empresas a nível mundial de aquacultura será uma experiência única, na qual vou ter acesso a meios que aqui não tenho e vou estar em contacto directo com cientistas desta área que têm muito mais experiência do que eu e vou tentar tirar a melhor experiência possível”, adianta João.

O concurso que João Rito venceu foi lançado, a nível mundial, pela Sociedade Mundial de Aquacultura (SMA), uma instituição criada em 1970. A SMA é uma sociedade internacional sem fins lucrativos, que tem como objectivo melhorar a comunicação e troca de informações sobre aquacultura, à escala global. Reúne cientistas, produtores e prestadores de serviços da indústria de aquacultura.
Fonte: Ciência hoje.pt

terça-feira, 9 de abril de 2013

Londres: Restos de gordura vão iluminar 40 mil casas

Terça-feira, 09 de Abril de 2013   
Londres: Restos de gordura vão iluminar 40 mil casas
Cerca de 40 mil casas em Londres, capital inglesa, vão passar a ser alimentadas com energia elétrica produzida a partir de restos de óleo e gordura de milhares de restaurantes e empresas da indústria alimentar daquela cidade, onde, brevemente, será construída a maior central de transformação de resíduos gordurosos em eletricidade.
 
O jornal britânico The Guardian avança que o projeto será implementado pela empresa Thames Water, em parceria com a companhia ecológica 2OC. Diariamente, 30 toneladas de resíduos de gorduras de cozinhas de unidades de restauração e fábricas vão ser recolhidas, o equivalente metade do combustível necessário para o funcionamento da central. O restante será proveniente de óleos vegetais e gordura animal.
 
Além de gerar energia limpa, o nascimento da nova central vai também permitir evitar o despejo de toneladas de gordura nos esgotos da cidade, que, anualmente, obrigam a milhares de desentupimentos, adianta a publicação inglesa.
 
A central vai ser construída na localidade de Beckton e corresponde a um investimento de cerca de 80 milhões de euros que será aplicado em 20 anos, devendo entrar em funcionamento já em 2015 e produzir 130 GWh/ano de eletricidade limpa, o suficiente para abastecer 40 mil residências.
 
De acordo com Piers Clark, diretor comercial da Thames Water, citado pelo The Guardian, "este projeto é benéfico para todos, [já que vai gerar] energia renovável, independente das flutuações dos preços de mercado das fontes não-renováveis de eletricidade, e ajudar a atacar o atual problema operacional dos depósitos de gordura nos esgotos".

Notícia sugerida por Diana Rodrigues
Fonte: Boas noticias
Muito bom!!!
 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Cobras & lagartos

  
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As criaturas mais odiadas
Perseguidos desde tempos imemoriais e vítimas de crenças infundadas, os répteis sobrevivem como podem à antipatia humana e aos inúmeros fatores que ameaçam diariamente a sua sobrevivência. O biólogo Jorge Nunes revela-nos a fauna herpetológica portuguesa e conta-nos toda a verdade sobre os escamosos rastejantes que têm sido alvo de tanto ódio.
Com exceção do lobo, dos morcegos e talvez das aranhas, poucos animais têm sido tão odiados como os répteis. Quando escutamos a expressão “cobras e lagartos”, percebe-se que não é coisa boa, pois dizer cobras e lagartos de alguém é dizer mal, amaldiçoar. Consta que esta expressão idiomática teve origem na literatura bíblica, na qual a serpente é amaldiçoada por ter levado Eva a provar o fruto proibido: “Serás maldita entre todos os animais… reinará a inimizade entre ti e a mulher… esta esmagar-te-á a cabeça.” E foi assim, enquanto o diabo esfregava um olho, que as serpentes passaram a ser vistas como criaturas demoníacas, que tinham de ser perseguidas e exterminadas. O pior é que esta secular e irreconciliável incompatibilidade com os pobres animais sem pernas acabou por se estender a outros que tinham o corpo coberto de escamas, mesmo que possuíssem patas. Ainda hoje, são inúmeras as pessoas que consideram os répteis feios, porcos e maus e que garantem que eles mordem e são peçonhentos! O que não é verdade, como se verá.
Desde épocas remotas que se imaginaram delirantes fantasias com estes animais. As mais hilariantes contam-nos como as cobras sobem ao regaço das mulheres adormentadas, durante a amamentação, para lhes beber o leite: “Enquanto colocam a ponta do rabo na boca dos bebés, a servir de chucha, para que não chorem”, escutámos reiteradamente em várias regiões do país. Ou, então, como chupam o leite das vacas, cabras e ovelhas, secando-as: “Depois de ter sido chupada, uma cabrinha minha ficou com a teta toda mirradinha e acabou por morrer! E já aconteceu o mesmo à minha vizinha!”, garantiram-nos a pés juntos numa aldeia da Beira Baixa.
Crendices populares
Na Sertã, uma vetusta vila situada bem no centro de Portugal, recordaram-nos a lenda de Nossa Senhora dos Remédios, que recontamos resumidamente. Segundo as gentes mais antigas, um jovem pastor encontrou uma cobrinha e começou a dar-lhe leite, durante vários anos; entretanto, o rapaz partiu para cumprir o serviço militar e, quando regressou, foi surpreendido por uma gigantesca serpente, que se atirou a ele para o matar. Protegido pela Virgem, acabou por conseguir abater o horrível monstro. Embora não seja exatamente esta a narrativa que encontramos na monografia Sertã e o seu Concelho, na qual consta um relato de 1874, parece que “ao lado do altar […] existe para memória, a queixada da serpente, que seguramente tem de comprimento um metro”.
Este é apenas um exemplo do vasto lendário português sobre serpentes (sobretudo, encantadas), como facilmente se confirma no Arquivo Português de Lendas (Centro de Estudos Ataíde Oliveira, http:// www.lendarium.org).
No qual se fica a saber que os lagartos também não foram esquecidos pelo povo, embora surjam num número menor de estórias, como a do lagarto de Lamas de Mouro (Melgaço) ou a dos lagartos de Dona Mirra (Peso da Régua).
Os ditos populares referem que as cobras também pilham os ovos e matam galinheiros inteiros. Ou ainda, roçando o rocambolesco, que podem roubar bebés indefesos e atacar transeuntes incautos: “Encantam-nos com o olhar, como fazem com os sapos”, asseveraram-nos várias pessoas, que também nos segredaram ao ouvido: “As cobras e os lagartos têm o hábito de subir pelas pernas das mulheres, em especial durante o período da menstruação. É muito perigosos andar na horta!”
Se atentarmos no nosso vocabulário, verificamos que é igualmente preconceituoso para estes animais, usando expressões como “más como as cobras”, “língua viperina” e “comportar-se como uma víbora”. Tal como os provérbios: “Se a víbora ouvisse e o licranço visse, não havia quem lhes resistisse”. Enfim, um rol de inverdades. Mitos, crenças e superstições infundadas, arreigadas na cultura popular, que colocaram estas pobres criaturas no lote dos mais odiados do reino animal.
Os grandes lagartos
Os vestígios dos répteis mais primitivos datam do Carbonífero (entre 359 e 245 milhões anos atrás, aproximadamente). O seu aparecimento constituiu um passo importante na evolução da vida na Terra, dado que foram os primeiros vertebrados totalmente terrestres. Tornaram-se completamente independentes do meio aquático, até mesmo para a sua reprodução (o que não acontece com os anfíbios). Apresentam fecundação interna e são amniotas: produzem ovos com casca (com substâncias de reserva e estruturas que mantêm um ambiente líquido em torno do embrião), o que lhes oferece proteção adequada contra os choques e a desidratação. Embora a maioria seja ovípara, algumas espécies, como o licranço, as cobras-de-pernas e as víboras, são ovovivíparas, dando à luz indivíduos juvenis semelhantes aos progenitores.
Com o passar do tempo, povoaram os ambientes terrestre (dinossauros), aquático (plesiossauros, ictiossauros e mosassauros) e aéreo (pterossauros). Os dinossauros (do grego sauro, lagarto, e deinós, terrível) acabaram mesmo por ser os “reis” do Mesozoico (há 250 a 65 milhões de anos), período de tempo geológico que ficou conhecido como “era dos dinossauros”. Segundo o registo fóssil, estes foram os maiores animais que alguma vez viveram no nosso planeta: Seismosaurus hallorum (mais de 50 metros de comprimento e cem toneladas de peso); Argentinosaurus huinculensis (45 metros de comprimento, 21 de altura e cerca de 150 toneladas); Sauroposeidon protelus (mais de 30 metros de comprimento, 27 de altura e cerca de 65 toneladas).
O mais famoso é, no entanto, o Tyrannosaurus rex, a quem o cinema (quem não se lembra de Parque Jurássico, de Steven Spielberg?), a banda desenhada e a literatura de ficção científica dedicaram especial atenção. Terá sido um dos maiores carnívoros terrestres, com catorze metros de comprimento, seis de altura e cerca de sete toneladas de peso. Inesperadamente, há aproximadamente 65 milhões de anos, um asteroide colidiu com o planeta e apagou-os da face da Terra. No entanto, alguns répteis de menores dimensões conseguiram sobreviver e chegaram até à atualidade. São sobretudo criaturas liliputianas, quando comparadas com os seus congéneres mesozoicos.
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Répteis modernos
Com o avanço do conhecimento científico, foi-se compreendendo o interesse e o valor deste grupo biológico, que passou a constituir uma disciplina à parte: a herpetologia (do grego herpeton, aquilo que rasteja). Atual­mente, encontram-se descritas cerca de 7140 espécies, distribuídas por quatro ordens: Chelonia (tartarugas), Squamata (escamosos), Crocodylia (crocodilos) e Rhynchocephalia (tuataras).
Os crocodilos (22 espécies, entre as quais se inclui o maior réptil vivo, o crocodilo-de-água-salgada, com sete metros de comprimento) e as tuataras (duas espécies endémicas da Nova Zelândia) não ocorrem na Europa. Os quelónios caracterizam-se pela presença de placas dérmicas ossificadas (carapaça) e pela ausência de dentes no estado adulto (possuem uma bainha córnea em forma de bico cortante). Os escamosos têm pele seca e coberta de escamas epidérmicas formadas por queratina e o corpo e a cauda alongados, e dividem-se em ofídios, sáurios e anfisbenídeos.
Os ofídios (cobras e víboras) possuem corpo alongado desprovido de membros e dentes relativamente afiados e compridos. Os sáurios (lagartos, osgas e camaleões) têm geralmente quatro patas mais ou menos desenvolvidas (nas cobras-de-pernas e nos licranços, observa-se uma redução ou perda total dos membros), cauda comprida e pescoço bem diferenciado. Os anfisbenídeos (cobra-cega) estão adaptados à vida subterrânea, pelo que possuem olhos atrofiados, extremidades arredondadas do corpo e um crânio bastante compacto e robusto que facilita a escavação de túneis.
Uma das curiosidades dos sáurios, que sempre fascinou os herpetólogos, é a sua capacidade de mutilação espontânea (autotomia), processo em que as vértebras caudais se podem fraturar voluntariamente, separando a cauda do resto do corpo. É uma estratégia de defesa altamente aperfeiçoada, dado que a cauda libertada continua a mexer-se, distraindo os predadores enquanto o animal se põe em fuga. A autotomia acontece devido à contração de músculos especializados que permitem romper as articulações vertebrais e selar diversos vasos sanguíneos, evitando a perda de fluidos corporais. Embora com dispêndio energético considerável, esses animais possuem a capacidade de reconstituir a extremidade perdida, um processo que implica o crescimento de uma estrutura cartilagínea em substituição das vértebras fraturadas e a regeneração da medula espinal.
Além da autotomia, os répteis apresentam outros curiosos mecanismos de defesa: comportamentos agressivos, como abrir a boca, emitir silvos, inchar o corpo e morder; camuflagem, como o camaleão, que tem a capacidade de alterar a sua coloração para se confundir com o meio; mimetismo, como acontece com a inofensiva cobra-de-água-viperina, que achata a cabeça e emite sons sibilados para se assemelhar a uma perigosa víbora; odores fétidos, que emanam de secreções libertadas pelas glândulas cloacais; ou ainda, tanatose, que é a capacidade de o animal se fingir morto para afastar predadores, como teatraliza muito bem a cobra-de-água-de-colar: permanece imóvel com o corpo flácido, ventre exposto e boca aberta.
Outra particularidade é que são todos animais de sangue frio (ectotérmicos), ou seja, não possuem um mecanismo interno que regule a temperatura. Assim, ao contrário do que acontece com as aves e os mamíferos, a temperatura corporal é muito variável e está dependente da temperatura ambiente. Embora à primeira vista isso possa parecer uma grande vantagem, uma vez que não precisam de consumir tanta energia na dieta alimentar, limita-lhes a atividade aos meses mais quentes do ano. Além disso, obriga-os a ser ativos essencialmente no período diurno e a tomarem banhos de sol regulares (por exposição direta aos raios solares ou aproveitamento do calor emanado pelo substrato, como as rochas). Este processo, conhecido por “termorregulação”, ocupa-lhes uma parte significativa da atividade diária.
Muitas espécies, sobretudo de sáurios, evidenciam dimorfismo sexual. Os machos adotam comportamentos territoriais na época de reprodução e vestem-se com cores mais vivas e chamativas. Além disso, apresentam cabeças proporcionalmente maiores do que as fêmeas e também um maior desenvolvimento dos poros femurais (localizados por baixo das patas traseiras), cujas secreções são importantes no reconhecimento e na atração sexual.
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Espécies domésticas
Em Portugal, há 28 espécies de répteis terrestres, das quais duas de quelónios, quinze de sáurios, uma de anfisbenídeos e dez de ofídios.
Os quelónios estão representados pelo cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) e pelo cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa). Embora sejam espécies similares, distinguem-se porque o M. leprosa apresenta placas inguinais, possui uma mancha arredondada de cor amarela ou laranja em ambos os lados da cabeça e não possui manchas amarelas na carapaça dorsal. Ambas as espécies podem partilhar as mesmas zonas húmidas, sendo a península Ibérica a única região da Europa onde tal acontece.
Nos sáurios, há a considerar as osgas, o camaleão, os lacertídeos, as cobras-de-pernas e o licranço. Quanto às osgas, existem duas espécies similares: a osga-turca (Hemidactyllus turcicus) e a osga-comum (Tarentola mauritanica). A osga-comum é comparativamente mais robusta e atinge maiores dimensões, apresenta dedos dilatados na extremidade, somente uma fila de lamelas (usadas para se agarrar a paredes lisas e verticais) na parte inferior dos dedos e unhas bem desenvolvidas apenas no terceiro e no quarto dedos. Ambas as espécies têm hábitos crepusculares ou noturnos, são bastante ágeis e trepadoras excecionais (conseguem subir com facilidade muros e paredes verticais). Surgem amiúde em locais com iluminação artificial, onde caçam as suas presas prediletas: insetos e aracnídeos. Embora as duas habitem, preferencialmente, em regiões quentes e secas, a H. turcicus encontra-se circunscrita ao Algarve e à raia alentejana, enquanto a T. mauritanica é bastante mais vulgar (ocorre em quase todo o território nacional), surgindo fortemente associada às construções humanas. Nas ilhas Selvagens (Madeira), encontra-se ainda uma espécie endémica, conhecida por “osga-das-Selvagens” (Tarentola bischoffi), que vive preferencialmente em locais pedregosos e rochosos.
O corpo revestido por escamas granulares e as cristas ósseas existentes na cabeça dão ao camaleão-comum (Chamaeleo chamaeleon) o aspeto de monstro pré-histórico. É um animal essencialmente arborícola, que se passeia de forma lenta e hesitante pelos ramos das árvores, usando as patas em forma de tenaz, as unhas pontiagudas e a cauda preênsil para se agarrar. Consegue mover os olhos de modo independente, o que se revela de grande utilidade, uma vez que segue as presas com o olhar enquanto permanece completamente imóvel. O mais fascinante, porém, é a sua assombrosa capacidade para mudar de cor, o que lhe permite confundir-se com o meio onde se encontra, tornando-o quase impossível de localizar no meio da vegetação. Pensa-se que terá sido introduzido nos pinhais entre Monte Gordo e Vila Real de Santo António, por volta de 1920. Análises ao RNA mitocondrial indicaram que os primeiros indivíduos terão vindo da costa atlântica de Marrocos, provavelmente de Essaouira, dado que existe uma enorme proximidade genética entre ambas as populações.
Os lacertídeos, nos quais se incluem as la­gar­tixas e os lagartos, serão porventura os rép­teis mais conhecidos do público em geral. So­bre­tudo as sardaniscas (sob esta designação, existem três espécies similares que foram in­cluí­das no género Po­dar­cis), que são comuns ao longo de todo o ano, mesmo em zonas den­sa­mente povoadas, surgindo frequentemente em jardins, muros e construções abandonadas. A Podarcis bocagei e a P. carbonelli são en­demismos ibéricos, ocorrendo a primeira prin­cipal­men­te a norte do rio Douro e a segunda na faixa litoral a sul, desde Espinho até ao Al­gar­ve. Nessas zonas litorais (e na raia beirã), po­de­rá encontrar-se igualmente a lagartixa-da-areia (Acan­tho­dac­ty­lus erythrurus), que tem o hábito curioso de correr com a cauda le­van­tada acima do nível do corpo (comporta­men­to que poderá ajudar à sua identificação). Esta espécie partilha frequentemente o mesmo habitat das lagartixas-do-mato, alimentan­do-se amiú­de dos seus juvenis. A lagartixa-do-mato-comum (Psam­mo­dro­mus algirus) e a lagartixa-do-mato-ibérica (P. hispanicus) poderão ser confundidas por um olho menos treinado. No entanto, esta última alcança menor tamanho, não possui coloração alaranjada na base das patas posteriores e apresenta linhas longitudinais no dorso. Embora ambas as espécies emitam sons, a sua função ainda permanece desconhecida.
Outros lacertídeos que merecem destaque são o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) e o lagarto-ocelado (L. lepida), mais conhecido por “sardão”. Enquanto o primeiro é um endemismo ibérico, o segundo estende a sua distribuição até ao sueste de França e noroeste de Itália. Como o próprio nome indica, o lagarto-de-água ocorre em zonas relativamente húmidas, próximo de cursos de água com coberto vegetal denso. O sardão, pelo contrário, evita os lugares húmidos e sombrios, preferindo sítios solarengos (encontra-se presente em todo o território nacional). É o maior lacertídeo da nossa herpetofauna, podendo atingir cerca de um metro de comprimento.
A joia da coroa da família Lacertidae é, no entanto, a lagartixa-da-montanha (Iberolacerta monticola). Trata-se de um pequeno réptil, endémico da península Ibérica, cuja única população portuguesa se encontra confinada a uma área com apenas 57 quilómetros quadrados, no Planalto Central da Estrela. É considerada uma relíquia climática que teria ficado refugiada nos píncaros agrestes da serra mais alta de Portugal quando as suas populações ancestrais, com uma distribuição geográfica mais alargada, regrediram devido às alterações do clima ocorridas no Holocénico, há cerca de 9000 anos.
Há ainda a registar a lagartixa-da-Madeira (Lacerta dugesii), um endemismo insular. É relativamente comum em meios humanizados, sendo muito abundante em todas as ilhas e ilhotas do arquipélago madeirense.
Lagartos que imitam cobras
As cobras-de-pernas, que curiosamente de cobras só têm o nome e o aspeto serpentiforme, uma vez que são sáurios, encontram-se representadas pela cobra-de-pernas-de-cinco-dedos (Chalcides bedriagai) e pela cobra-de-pernas-de-três-dedos (C. stiatus). Estes animais também são conhecidos por “fura-pastos”, devido ao facto de perfurarem facilmente os lameiros e prados onde habitam. Embora à primeira vista sejam espécies bastante semelhantes, os seus nomes vulgares permitem inferir a principal característica distintiva: o número desigual de dedos. Ambas têm o corpo coberto por escamas lisas, que lhe conferem um aspeto brilhante com reflexos metálicos, e possuem membros de reduzido tamanho. Enquanto a C. stiatus existe na península Ibérica, no sul de França e no noroeste de Itália, a sua congénere C. bedriagai é mais um endemismo ibérico, que ocorre no nosso país em pequenos núcleos populacionais isolados.
O licranço (Anguis fragilis) é outro sáurio com corpo serpentiforme, mas neste caso completamente desprovido de membros (sabe-se que é um lagarto porque existem no esqueleto vestígios ósseos pertencentes à cintura pélvica e/ou escapular). É uma espécie muito tolerante ao frio, pelo que se encontra ativa desde março a novembro, sobretudo ao crepúsculo e durante a noite. Uma outra curiosidade é a sua grande longevidade (em cativeiro, já sobreviveu até aos 54 anos, quando a longevidade dos restantes sáurios é de apenas três a dez anos).
Os anfisbenídeos encontram-se representados pela cobra-cega (Blanus cinereus), endémica da península Ibérica. É um dos répteis mais estranhos, uma vez que tem olhos atrofiados cobertos por escamas (surgem apenas como dois pontos negros sob a pele); a falta de olhos e a coloração habitualmente rosa tornam-na inconfundível. Toda a sua morfologia está adaptada aos hábitos subterrâneos, possuindo um crânio bastante compacto e robusto e uma capacidade invulgar de escavar túneis. Além disso, tem ambas as extremidades do corpo arredondadas, podendo deslocar-se tanto para um lado como para o outro.
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Cobras verdadeiras
Os ofídios, com corpo alongado desprovido de membros e dentes relativamente afiados e compridos, estão representados por oito espécies na família Colubridea e duas na Viperidae. A principal distinção faz-se através da cabeça e da pupila: as cobras têm nove escamas grandes a cobrir a parte dorsal da cabeça e olhos com pupila circular, enquanto nas víboras a parte dorsal da cabeça tem numerosas escamas pequenas e menos de nove grandes e possuem olhos com pupila vertical.
Nos colubrídeos, a mais conhecida é sem dúvida a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), que pode ultrapassar os dois metros de comprimento, sendo por isso o maior ofídio da nossa herpetofauna. A sua predileção por roedores (donde lhe advém o nome) faz que surja amiúde nas proximidades do homem, principalmente nas explorações agrícolas, embora possa ser encontrada numa grande variedade de habitats, desde jardins até ­áreas pedregosas ou florestais. É bastante ágil e trepa às árvores com facilidade, tanto para se aquecer como para procurar alimento, como crias de aves.
A cobra-de-escada (Elaphe scalaris), também conhecida por “riscadinha”, é outra cobra relativamente grande, que pode atingir quase dois metros da cabeça à ponta da cauda. Distingue-se facilmente pelo desenho e padrão da coloração dorsal: duas linhas escuras longitudinais sobre fundo castanho-amarelado. Outro ofídio avantajado é a cobra-de-ferradura (Coluber hip­pocrepis), que pode chegar a 1,80 metros. Tal como as precedentes, é muito ágil e possui excelentes capacidades trepadoras.
As chamadas “cobras-lisas” estão representadas pela cobra-lisa-meridional (Coronella girondica) e pela cobra-lisa-europeia (C. austriaca). Distinguem-se, entre outras características, pela coloração do ventre, que é axadrezado na C. girondica. São ofídios de pequeno tamanho, que não ultrapassam 70 centímetros de comprimento. Apesar de poderem coexistir em alguns locais, têm preferências ecológicas distintas: a meridional prefere lugares semiáridos e rochosos, enquanto a europeia ocorre em sítios frescos e húmidos. Outra espécie de pequeno tamanho, que não vai além dos 60 cm, é a cobra-de-capuz (Macroprotodon cucullatus). O seu nome deriva do colar escuro que possui na parte posterior da cabeça. Encontra-se principalmente a sul do Tejo. Quando se sente ameaçada, tanto pode apresentar uma postura agressiva como enrolar-se sobre si própria, escondendo a cabeça (“a avestruz dos répteis”, dirão alguns).
Por último, temos as mais aquáticas de todos os colubrídeos: as cobras-de-água. A mais comum, amplamente distribuída por todo o país, é a cobra-de-água-viperina (Natrix maura), que se distingue da sua congénere, a cobra-de-água-de-colar (N. natrix), pelo dorso com manchas negras dispostas frequentemente em ziguezague e por possuir duas escamas antes e duas depois dos olhos (preciosismo que apenas os especialistas – com paciência! – poderão detetar). Como seria de esperar, alimentam-se sobretudo no meio aquático, pelo que os peixes são presença habitual na sua dieta alimentar.
Quanto aos viperídeos, podem encontrar-se em Portugal a víbora-cornuda (Vipera latastei), em núcleos populacionais fragmentados por todo o território, e a rara víbora-de-Seoane (V. seoanei), que é um endemismo do norte da península Ibérica e, no nosso país, se encontra sobretudo nos lameiros, prados e matos do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Apesar de serem espécies similares, que inclusivamente podem coexistir no mesmo habitat, distinguem-se porque a cornuda tem a extremidade do focinho mais proeminente (apêndice nasal típico da espécie e que lhe valeu o nome vulgar) e a cabeça mais triangular. Embora sejam relativamente pequenas, não indo muito além de meio metro de comprimento, são as únicas espécies potencialmente perigosas para o homem.
Luta pela sobrevivência
A pergunta que toda a gente quer fazer: “Afinal, para que servem esses bichos?” São responsáveis por exterminar um sem-número de insetos e de outros invertebrados prejudiciais, e ainda de pequenos mamíferos (como roedores e toupeiras), que poderiam facilmente tornar-se pragas agrícolas ou transmitir doen­ças. Além disso, servem de alimento a muitos outros animais, como aves e mamíferos, muitos deles raros ou em vias de extinção. Enfim, merecem o seu lugar na complexa teia da vida, uma vez que são indispensáveis ao equilíbrio dos ecossistemas, e prestam-nos impagáveis serviços de forma gratuita.
Alguns répteis vivem mesmo paredes-meias com os humanos, ocupando estábulos, celeiros, arrecadações, jardins, quintais e até mesmo habitações. Aproximam-se de nós à cata de comida, mas não para beberem o leite das mulheres: para caçarem os ratos que nos incomodam, como faz a cobra-rateira, ou os insetos nocivos, iguaria muito apreciada pelas osgas e sardaniscas.
Contudo, apesar dos inestimáveis serviços que nos prestam, a lista de fatores que põem diariamente em causa a sua sobrevivência é bastante vasta. Segundo o guia Anfíbios e Répteis de Portugal, “a alteração e a destruição dos habitats naturais é, sem dúvida, a principal ameaça para a herpetofauna portuguesa”. Aspetos como a crescente urbanização, os povoamentos florestais com espécies exóticas, as modificações no uso dos solos (através do abandono ou da introdução de explorações agrícolas e florestais intensivas), a alteração e destruição de zonas húmidas e da vegetação ribeirinha, a poluição e os incêndios sobressaem como as causas mais importantes da degradação, redução e fragmentação das populações herpetológicas. A estes, juntam-se ainda a mortalidade nas estradas (uma vez que os répteis as procuram regularmente para termorregulação), a perseguição humana (em resultado da crença infundada, mas generalizada, de que são demoníacos e perigosos) e as capturas (para animais de estimação, como cágados e camaleões, ou para ingredientes da medicina popular e amuletos da sorte, como acontece com as cabeças de víbora nas serras do Gerês e de Montemuro).
Para pôr cobro às ameaças que muitos répteis vivem na pele – literalmente –, impõe-se pôr em prática diversas medidas de conservação. O que poderá fazer o cidadão comum para ajudar na sua preservação? Nada! Se os ignorar e os deixar seguir a sua vida tranquilamente, já está a dar um contributo relevante. Além disso, poderá sempre colaborar para alterar a péssima imagem pública que os persegue. Como epílogo, poderíamos dizer “cobras e lagartos”, mas preferimos uma atitude mais pedagógica. Justificar-se-á, afinal, tanta animosidade?
J.N.

Mordeduras improváveis
As víboras e as cobras fazem tudo para evitar cruzar-se connosco, mas podem existir encontros inusitados, sobretudo durante a realização de atividades de ar livre. Embora o seu principal mecanismo de defesa seja a fuga, quando se sentem ameaçadas, podem tornar-se agressivas (emitem sons agudos, sopram e projetam a cabeça) e morder. Todavia, apenas quatro ofídios da fauna portuguesa possuem dentes inoculadores de veneno; os restantes consideram-se áglifos (sem dentes inoculadores de veneno), pelo que são totalmente inofensivos!
Entre os que têm capacidade de injetar veneno, encontram-se a cobra-rateira e a cobra-de-capuz. Embora sejam espécies venenosas, não podem considerar-se perigosas para o homem, dado que são opistóglifas, ou seja, os dentes venenosos situam-se na região posterior dos maxilares. Este facto (aliado ao reduzido tamanho da abertura bucal, especialmente na cobra-de-capuz) torna a inoculação de veneno pouco provável em caso de mordedura. Como espécies solenóglifas (com dentes inoculadores de veneno situados na região anterior dos maxilares superiores), eventualmente perigosas, restam a víbora-cornuda e a víbora-de-Seoane.
A perigosidade das mordeduras de víboras depende, no entanto, de vários fatores, como a quantidade de veneno injetado, o local da mordedura, a condição física da pessoa e a idade da vítima, entre outros. Os primeiros sintomas são geralmente uma dor súbita e intensa e a formação de edema. Entretanto, poderão surgir outros sinais e sintomas, como ansiedade, hipotensão, hipertermia, dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia e ocasionais alterações cardíacas. Os primeiros socorros devem ser a colocação da vítima em repouso, a imobilização da zona atingida, a lavagem imediata da ferida com água e a aplicação de gelo no local da mordedura, para acalmar a dor. Entretanto, deve contactar-se o centro de informação antivenenos (disponível 24 horas por dia, através do 112) e encaminhar a vítima para observação médica.
Como “mais vale prevenir do que remediar”, sobretudo em zonas rochosas e montanhosas, que constituem habitats favoritos das víboras, será aconselhável a utilização de calçado protetor e de calças grossas. Caso se cruze com alguma, afaste-se para uma distância segura e nunca tente capturá-la ou matá-la.

SUPER 167 - Março 2012

O regresso da Biosfera 2

  
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Nova vida para um velho fiasco
Considerado um falhanço científico durante muito tempo, este centro de investigação, construído nos Estados Unidos na década de 1980, atrai atualmente especialistas de vários campos, que ali estudam desde a extinção das espécies vegetais até aos efeitos das alterações climáticas.
Em Julho de 1987, a simulação de uma enigmática estrutura cristalina cobria as capas das revistas de divulgação científica. Através de um corte numa das paredes, podia ver-se que estava ocupada por árvores, aves, um lago e vários técnicos trabalhando em diversos sistemas de manutenção. Tratava-se da Biosfera 2, um enorme simulador de ecossistemas onde um grupo de investigadores pretendia encerrar-se durante dois anos. Em teoria, aquele complexo autossuficiente com mais um hectare de área iria albergar centenas de espécies que viveriam em diversos biomas ou paisagens bioclimáticas artificiais: uma selva, um mar, uma savana, um pântano...
A ideia era que os recursos, do ar à água, se renovassem automaticamente. Por exemplo, o dióxido de carbono expulso pelas pessoas e pelos animais seria aproveitado pelas plantas, enquanto os detritos fertilizariam os terrenos de cultivo e serviriam de nutriente às algas. Estas, por sua vez, constituiriam a base alimentícia de outras formas de vida. No final, tratava-se de estudar até que ponto seria possível construir um habitat autónomo onde pudessem estabelecer-se os futuros colonos que viajassem para a Lua ou para Marte.
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Investigação em grande.
No entanto, uma série de incidentes deitou por terra aquela aventura de 200 milhões de dólares. Durante a primeira missão, que teve lugar entre 1991 e 1993, baratas e formigas penetraram no sistema, aparentemente estanque (dizia-se que apenas perdia dez por cento do ar por ano, enquanto nos vaivéns espaciais essa perda era de 2% por dia). Os níveis de CO2 aumentaram perigosamente, o que causou a morte dos insetos polinizadores e de muitos vertebrados e tornou necessário injetar oxigénio para garantir a sobrevivência do projeto.
As dissensões que surgiram durante a segunda missão, realizada em 1994, deram o golpe de misericórdia na Biosfera 2. Durante 13 anos, a estação foi abandonada, reocupada pela Universidade de Columbia, objeto de especuladores e ícone da cultura New Age.
Até que, em 2007, a Universidade do Arizona adquiriu-a e converteu-a num grande laboratório de ciências da Terra (http://www.­b2science.org). Ali, é hoje possível estudar como em nenhum outro lugar do mundo o impacto das alterações climáticas sobre as espécies vegetais e a resposta dos ecossistemas a concentrações elevadas de gases de efeito de estufa. Além disso, segundo os responsáveis pela nova Biosfera 2, a instalação funciona como um modelo de cidade no qual também é possível ensaiar estratégias para reduzir as emissões poluentes ou a implantação de novos sistemas de distribuição elétrica.
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A.A.

SUPER 167 - Março 2012

Árvores marinhas

Parque à beira-praia
As estruturas criariam habitats para múltiplas espécies animais, cujos efeitos se fariam sentir muito para o interior
 
 
 
Um gabinete de arquitetura holandês acaba de propor (<Fev - 2012?) um parque natural flutuante para equilibrar o ambiente nas grandes cidades: chamou-lhe Sea Tree (árvore marinha) e é uma estrutura com vários andares de habitats naturais, destinados a animais selvagens. O waterstudio acredita que as árvores marinhas forneceriam importantes ecossistemas para pássaros, abelhas, morcegos e outros pequenos animais, com reflexos positivos sobre a qualidade de vida nas cidades.
Para os arquitetos, são raras e difíceis as iniciativas de criar novos parques dentro das cidades, e por isso será necessário recorrer a áreas abertas como rios, o mar, lagos e portos. Propõem-se usar as técnicas usadas para construir as plataformas de petróleo, e sugerem mesmo que sejam as companhias petrolíferas a doá-las às cidaddes, para mostrar que se preocupam com as questões ambientais.
As gigantescas torres flutuantes seriam amarradas ao solo, através de cabos submarinos, e a sua altura e profundidade poderiam ser ajustadas segundo as necessidades. "Sob a superfície, a Sea Tree oferece um habitat para pequenas criaturas marinhas e, dependendo dos climas, para corais de recifes artificiais", explica o arquiteto Koen Olthuis. "A beleza do conceito é fornecer uma solução que não tem custos sobre o solo, embora os efeitos das espécies se sintam num raio de quilómetros".
O Waterstudio (http://waterstudio.nl/projects/79) afirma que vai construir a primeira estrutura até Janeiro de 2014, para um cliente desconhecido.
Super Interessante 167 - Março de 2012

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Natureza íntima

Flagrantes da vida real
Reconhecido e premiado fotógrafo da vida selvagem, João Cosme (www.joaocosme.net) reuniu no livro Natureza íntima (Bizâncio, 2011) uma centena de imagens únicas que retratam parte da biodiversidade nacional.
Super Interessante 166 - Fevereiro de 2012

terça-feira, 2 de abril de 2013

Farmácia caseira

Quando se fala de primeiros socorros, a medicina popular é bastante simples e prática: se existe ferida , aplica-se calêndula; se não, usa-se arnica. Uma regra tão clara pode, no entanto, induzir-nos em erro, levando-nos a pensar que a farmácia caseira se resume a apenas duas ervinhas, quando, na verdade, se conhecem mais de 400 espécies de plantas medicinais. Segue-se um pequeno guia das plantas (para cada uma indica-se o nome comum e a denominação científica, porquanto os nomes vulgares variam muito de região para região) com lugar assegurado em qualquer farmácia natural, mas não se pense que são as únicas.

Alecrim (Rosmarinus officinalis) - As folhas estimulam a circulação e aliviam a dor. Atua sobre o sistema nervoso e fortalece a memória. Utiliza-se no tratamento de insuficiências hepáticas e vesiculares, uma vez que possui propriedades diuréticas. Alivia a asma, as amigddalites e a obstrução nasal e aumenta o apetite.

Alfazema (Lavandula officinalis) - Em tisana, alivia as dores de cabeça e acalma os nervos. Utiliza-se na asma brônquica, na tosse, nas enxaquecas, nas gripes e em certos casos de reumatismo.

Arnica (Arnica montana) - As suas flores e raízes usam-se como estimulantes cardíacos, sob estrito controlo médico, dado que se trata de uma planta tóxica. No uso externo, estimula a reabsorção dos hematomas e tem propriedades antissépticas e cicratizantes.

Borragem (Borago officinalis) - A borragem é um remédio de ação suave muito apreciado na medicina popular. Para aproveitar o efeito calmante e emoliente das suas flores, fazem-se excelentes infusões que tratam a incómoda tosse das bronquites. Utiliza-se como depurativo, diurético, laxativo e sudorífico.

Calêndula (Calendula officinalis e C. Arvensis) - Faz parte de numerosos preparados farmacêuticos e cosméticos e as suas propriedades bactericidas e cicratizantes converteram-na na planta ideal para os cuidados da pele. Usa-se para curar feridas e limpar a pele com acne ou descamação, nas queimaduras, nas picadas de insectos,etc.

Camomila (Matricaria chamomilla) - A infusão das flores produz uma tisana tónica e sedativa. Usa-se no banho para aliviar as queimaduras do sol. É habitualmente utilizada para acalmar espasmos e convulsões, como anti-inflamatório, antisséptico, etc.

Carqueja (Chamaespartium tridentantum) - Acalma a tosse e as irritações da faringe, sendo muito utilizada nas gripes, nas bronquites, na pneumonia e nas traqueítes.

Cidreira (Melissa officinalis) - Em infusão, alivia o catarro provocado pela bronquite crónica, as constipações febris e as dores de cabeça. Utiliza-se como calmante e no tratamento de perturbações gástricas e de dores de cabeça de origem nervosa.

Dente-de-leão (Taraxacum officinale) - É diurético e destaca-se no combate à arteriosclorose, à celulite, à tensão alta e ao mau colesterol. Usa-se ainda nos problemas de fígado e vesícula.

Erva-de-São-Roberto (Geranium robertianum) - Possui propriedades adstringentes, espasmódicas, diuréticas, hemostáticas e hipoglicemiantes. Utiliza-se em problemas de estômago, hemorragias pulmonares ou nasais, diarreias e cálculos renais e urinários.

Hipericão-bravo (Hypericum perforatum) - É antisséptico, cicratizante, diurético e sedativo. Utiliza-se na depressão, na insónia, nas infecções gineológicas e nas inflamações crónicas do estômago, da vesícula e dos rins. Além disso, ajuda nas dores musculares e nevralgias e no herpes labial.

Hipericão-do-Gerês (Hypericum androsaemum) - Tem propriedades diuréticas e estimula a libertação da bílis. Utiliza-se nos tratamentos hepáticos.

Lúcia-lima (Lippia citriodora) - Combate,sobretudo, as perturbações digestivas e nervosas. Usa-se contra as indigestões, a flatulência e o mau hálito e como calmante.

Malva (Malva silvestris) - Apresenta propriedades anti-inflamatórias e utiliza-se na lavagem de feridas e como calmante sobre a pele e as mucosas inflamadas. Em infusão, usa-se em casos de diarreia, úlceras no estômago, catarros e obstrução das vias respiratórias, e ainda como laxativo.

Orégão (Origamum vulgare) - Em tisana, combate a tosse, as dores de cabeça nervosas e a irritabilidade. Utiliza-se contra a gripe, as constipações, as febres e a indigestão.

Poejo (Mentha pulegium) - Usa-se como calmante e contra indigestões, gripes, bronquites e dores menstruais. Não deve ser tomado durante a gravidez ou em caso de problemas renais.

Rosmaninho (Lavandula stoechas) - Tem propriedades sedativas, antissépticas, insecticidas, cicratizantes, diuréticas e sudoríferas. Utiliza-se também para aliviar as náuseas e estimular a circulação.

Salva (Salvia officinalis) - Depois das refeições, a infusão de folhas pode ajudar a fazer a digestão. É antisséptica e fungicida e contem estrogéneos. Utiliza-se contra a depressão, as inflamações da boca e da garganta, a diarreia e os afrontamentos da menopausa.

Tilia (Tilia cordata) - Tem propriedades diuréticas e sedativas. Usa-se contra febres, acidez gástrica e doenças hepáticas e biliares.

Urze (Calluna vulgaris) - É adstringente, antisséptica e diurética. Usa-se contra problemas urinários, diversas afeções renais e hipertrofia da próstata.

Zimbro (Juniperus communis) - As falsas bagas desta planta tiveram na Idade Média uma extraordinária celebridade, pois supunha-se que faziam curas miraculosas. É usado como depurativo e diurético. Entra na confeção de alguns pratos, serve para condimentar o presunto fumado e é o principal ingrediente na preparação do gin (bebida alcoólica destilada).

Super Interessante 165 - Janeiro de 2012

Cada ovo no seu ninho

Este elaborado ninho pertenceu a uma gaivina-de-bico-vermelho (Hydroprogne cáspia), uma ave marinha que nidifica em colónias e oculta os ovos entre conchas algas e pedras.
 
Pedaços de ervas, folhas secas, musgo, palha, raminhos, conchas, pelos de cavalo ou de ovelha: são muitos os materiais usados pelas aves para construirem seus ninhos. Sharon Beals, fotógrafa norte-americana e apaixonada observadora da avifauna, dedicou-se a fixar em imagens estes lares fantásticos, do que resultou o seu livro Nests - 50 Nests and the Birds That Build Them (Chronicle Books, San Francisco, Estados Unidos, 2011). As fotografias revelam um mundo de estruturas aparentemente frágeis, mas muito eficazes, que oferecem pistas sobre os seus construtores e os ecossistemas terrestres.
No século XIX e no início do sequinte, a oologia era não apenas uma disciplina científica mas também um hobby para muitos entusiastas que se dedicavam a recolher e colecionar ovos e ninhos, ignorando o impacto desta prática sobre a biodiversidade. Nos nossos dias esta prática é ilegal na maioria dos países, mas conservam-se bastantes coleções privadas antigas, entretanto entregues aos museus das ciências. Foi aí que Sharon Beals obteve material para as fotos.
Dado que 12 por cento das aves estão em perigo de extinção, estes ninhos são especialmente valiosos, pois contêm vestigios genéticos dos pássaros, dos seus parasitas e do seu habitat, e porque permitem conhecer os seus hábitos de caça e de alimentação.

Super Interessante - Janeiro de 2012

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Será possivel viver sem fósforo?



Arsénico que dá vida.
Uma bactéria aproveita este elemento tóxico como combustível celular, algo que se pensava ser impossível. A polémica descoberta colocou a autora, a microbióloga Felisa Wolf-Simon, no centro de um aceso debate.
Em 2009, Felisa Wolfe-Simon, uma microbióloga norte-americana com uma bolsa de investigação concedida pela NASA, retirou amostras de lodo do fundo do lago Mono, na Califórnia. Este possui uma elevada concentração de minerais e é 2,5 vezes mais salgado do que a água do mar, pois não tem qualquer saída por onde fluir. A investigadora colocou as amostras em tubos de ensaio com uma solução de arsénico, substância que se pode tornar muito tóxica, e aguardou que bactérias crescessem nesse meio. Durante meses, repetiu o processo, aumentando a quantidade de arsénico de forma paulatina, até que obteve uma estirpe que não só o tolerava como podia incorporá-lo nos seus processos vitais e utilizá-lo como substituto do fósforo.
A noticia, de extrema importância pelas suas implicações, nomeadamente para a astrobiologia, correu o mundo em Dzembro de 2010. O que esta bactéria, denominada GFAJ-1, parece conseguir é tão milagroso como seria o facto de um ser humano poder respirar normalmente numa câmara com monóxido de carbono. Do ponto de vista molecular, o arsénico é muito semelhante ao fósforo. É por isso que é tão venenoso: as células aceitam-no e, de seguida, são mortas. Todavia, o microrganismo não só é imune ao agente tóxico como chega a utilizá-lo para se construir a si próprio.
Durante uma conferência de imprensa muito criticada pela comunidade científica, a NASA anunciou que poderia tratar-se de uma nova e exótica forma de vida. Vários especialistas, em especial a microbióloga Rosie Redfield, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), foram de opinião que a experiência apresentava deficiências. Sugeriram, basicamente, que o ADN do micróbio não fora bem “lavado” e que, por conseguinte, como escreveu o jornalista Carl Zimmer na revista Slate, as moléculas de arsénico tinham-se “colado como uma pastilha elástica a um sapato”. A imprensa especializada também censurou a NASA pela dose de sensacionalismo que impregnava a notícia, pois quase levava a crer que se tinha descoberto um ser alienígena.
“Embora os resultados do trabalho de Wolfe-Simon sejam assombrosos e lancem uma nova luz sobre a procura de vida em ambientes extremos – incluindo meios extraterrestres -, a verdade é que não mostram uma nova forma de vida ou representam um grande passo em frente”, afirmava a revista Discover. Paralelamente, a notícia “incendiou” as redes sociais, que se transformaram em centros de debate onde qualquer cidadão podia comentar a descoberta ou mesmo atacar a sua autora.
Avalancha na internet. Para a jovem microbióloga, a experiência tornou-se um pesadelo, embora lhe tenha aberto os olhos para as subtilezas da comunicação científica. “Só coloquei um breve poster no Twitter, mas aprendi que a internet dá voz a coisas que não se podem antecipar. Inundaram-me de perguntas e mensagens de correio eletrónico; todos pediam uma resposta imediata. Foi muito rápido”, explica Felisa. “Creio que não estávamos preparados para lidar com a celeridade e as especulações dos meios de comunicação nas novas plataformas da internet. Pensávamos que as nossas descobertas iam provocar um debate científico, mas não previmos esta reação. Estava pronta para comunicar a minha paixão por entender os princípios fundamentais da natureza, não para descrever o estudo como algo de definitivo. Na realidade, ainda temos um longo caminho a percorrer.”
Depois de se negar a falar com a imprensa durante algum tempo, Wolfe-Simon resolveu rebater as críticas, numa entrevista concedida à Science, em especial a que assegurava que o ADN do micróbio não fora convenientemente descontaminado. “Pegámos nas células para as separar por centrifugação e lavá-las minuciosamente. Seguimos o protocolo padrão para extração do ADN, que inclui eliminar todas as impurezas, incluindo qualquer vestígio de arsénico […]. A fracção de ADN utilizada para efetuar as análises suplementares e outros processos, como a reação em cadeia da polimerase [técnica usada para copiar fragmentos de ADN], exige material genético com um elevado grau de purificação, pelo que, se houvesse qualquer contaminante, teria surgido um problema. Por conseguinte, não acreditamos que essa questão possa ser motivo de preocupação.”
De facto, a microbióloga está disposta a partilhar as suas amostras com outros colegas: “Embora o nosso laboratório não tenha, neste momento, capacidade para produzir e enviar grandes quantidades de células, é um dos nossos objetivos. Recebemos muitos pedidos, e estamos empenhados”, diz Felisa, acrescentando que, ao contrário do que outros especialistas afirmaram, não é fácil trabalhar com as GFAJ-1. “São esponjosas e macias; são diferentes. Quando experimentamos aplicar-lhes diversas técnicas, acrescentamos mais peças ao quebra-cabeças, o que irá, sem dúvida, suscitar novas interrogações”, explicou na Science.
Pouco depois da divulgação da descoberta de Wolf-Simon, Rose Redfield anunciou na mesma revista norte-americana que iria tentar reproduzir o trabalho e que tencionava anúnciar os resultados, passo a passo, à vista de todos, no seu blogue. Embora a bactéria, até agora, não tenha conseguido sobreviver na presença de arsénico, os especialistas afirmam que ainda é muito cedo para concluir que a investigação original não tem fundamento.
No entanto, o que ainda incomoda Wolfe-Simon é o tom pessoal de algumas críticas.
“Aborrecem-me porque trabalhei arduamente neste projecto”, assinala. “Apesar de tudo, estou fascinada com o interesse que o assunto despertou. Creio que os meios de comunicação são uma parte importante do processo. Não queremos ser evasivos. Apenas necessitamos de tempo para pensar.”
Super 164 – Dezembro 2011