sábado, 30 de junho de 2012

Estranhas aranhas

(Xysticus grallator)


Bichos repelentes ou símbolos de felicidade?
Nem o facto de serem consideradas prelúdio de fortuna altera o sentimento de repugnância que nutrimos por elas. No entanto, apesar de as detestarmos, continuam a prestar-nos um inestimável serviço, devido à quantidade de insectos prejudiciais que eliminam. O biólogo Jorge Nunes revela curiosidades, mitos e perigos destas admiráveis tecedeiras. Uma leitura recomendável, mesmo para quem sofre de aracnofobia.
Há tempos, seguia tranquilamente por uma rua da cidade do Porto quando, de repente, uma jovem começou a pular e a gritar, alvoraçada: “Aaahh! Que noooojo! Aranhas! Bichos nojentos e horríveis! Aaahh!” Por momentos, ainda pensei que era uma cena para algum programa de apanhados, mas rapidamente me apercebi, através do seu rosto horrorizado e pelo modo como sacudia energicamente o cabelo, que estava verdadeiramente em pânico. Padecia seguramente de aracnofobia.
O medo de aranhas, uma das fobias mais comuns, pode manifestar-se de várias formas: pânico, suores frios, respiração acelerada e náuseas. São geralmente reacções totalmente irracionais, mas que, na verdade, podem condicionar bastante a vida de uma pessoa. Em casos mais graves, chegam a influenciar aspectos como o local escolhido para viver, a rotina diária, passatempos e locais de férias, entre outros. Felizmente, como acontece com a maioria das fobias, o “medo de aranhas” pode curar-se com tratamentos psicológicos adequados. Estes consistem essencialmente na exposição progressiva aos aranhiços, os monstros de oito patas que tanto atemorizam algumas pessoas. Se tudo correr bem, ao fim de algum tempo os pacientes já passam a ver as aranhas com outros olhos. Afinal, não há razão alguma para odiar estes pequenos animais, magníficos predadores de insectos e verdadeiros mestres na arte da tecelagem.
Se julga que sofre mesmo de aracnofobia, por favor não leia o que se segue (pelo menos, enquanto não se curar desse mal) e passe de imediato à secção seguinte. Por mais que a higiene seja o seu forte e que até pudesse ganhar o prémio de limpeza do lar, fique a saber que mais tarde ou mais cedo acabará por partilhá-lo com algumas (a palavra mais adequada seria “muitíssimas”, mas não queremos assustar os leitores) aranhas. Quando menos esperar, vai cruzar-se com algum aranhiço dependurado numa das suas plantas ornamentais ou escondido nas costas de um dos móveis. Isto se o bicho não for mais descarado e não lhe decorar os tectos com algumas teias balouçantes. Antes que possa sentir-se impotente perante tão insolente invasão de propriedade, o melhor é aceitar com naturalidade a presença dos novos moradores, que, geralmente, vieram para ficar. Para quem não suporta o atrevimento e quer preservar a sua propriedade, saiba que não precisa de esmagar o bicho, basta empurrá-lo com a vassoura e atirá-lo pela janela. Talvez encontre um novo lar onde possa levar uma vida mais serena sem se ver constantemente em palpos-de-aranha.
Apesar de poderem ser muitas as aranhas que vivem nas nossas casas, são ainda mais as que vivem nos nossos jardins ou quintais. Entre as mais vulgares, contam-se a aranha-dos-jardins, a aranha-de-cruz e a aranha-caranguejo. Umas fazem-no de um modo permanente, apesar de não pagarem renda, outras são visitantes ocasionais que de vez em quando resolvem importunar-nos com as suas pas­sea­tas. Caso tenha curiosidade em conhecer alguns dos seus possíveis inquilinos, visite http://www.aranhas.info e fique a saber quais são as espécies que lhe poderão entrar pela casa adentro.
Uma história antiga
Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, as aranhas não são insectos. Distinguem-se facilmente destes por possuírem oito patas e pela ausência de antenas (os insectos adultos têm frequentemente três pares de patas e um par de antenas). As aranhas fazem parte de um grande grupo do filo dos artrópodes designado por “aracnídeos” ou “quelicerados”, no qual se incluem também os escorpiões, as carraças e os ácaros.
Os aracnídeos constituem um grupo muito antigo, remontando a sua origem há cerca de 400 milhões de anos, numa época em que o planeta se encontrava matizado por inúmeros pântanos onde se desenvolvia uma vegetação luxuriante que acabou por fossilizar, originando o carvão que actualmente utilizamos como combustível fóssil. Muito antes de os dinossauros terem aparecido na Terra, já os aracnídeos proliferavam. Um dos mais antigos terá sido o escorpião marinho Megarachne servinei, com mais de meio metro de comprimento. Esta espécie esteve, durante mais de vinte anos, erroneamente registada no livro de records do Guiness como a mais antiga e a maior aranha de todos os tempos. No entanto, sabe-se desde 2004, que, afinal, não era uma aranha mas um dos membros do grupo extinto de escorpiões marinhos (Eurypterida), a que terá pertencido também um dos maiores artrópodes de todos os tempos, oJaekelopterus rhenaniae, com cerca de 2,5 metros de comprimento.
Ao que parece, não seria nada fácil viver nessas primeiras florestas onde os fetos tinham porte arbóreo, com mais de 30 metros de altura e dois metros de diâmetro, e os insectos e outros invertebrados eram dignos de enredos de filmes de terror: escorpiões e centopeias com mais de dois metros de comprimento (aproximadamente o tamanho de um cavalo) e libélulas com cerca de 75 centímetros de envergadura (qualquer coisa como a envergadura de um pombo em voo).
Num mundo de gigantes, convinha estar à altura da concorrência; porém, as aranhas nunca terão conseguido chegar sequer aos calcanhares de outros artrópodes colossais com quem partilharam o habitat. A maior aranha fossilizada já registada (Nephila jurassica), que viveu há cerca de 165 milhões de anos, não ia além de 5 cm de comprimento do corpo e 30 cm de envergadura com as patas abertas. A sua pequenez, quando comparada com outros artrópodes gigantes da pré-história, não a terá impedido, contudo, de capturar presas de muito maior tamanho. Aliás, pensa-se que desde muito cedo as aranhas terão começado a desenvolver as ardilosas técnicas de caça que ainda hoje caracterizam este grupo de animais. Tal como os humanos, também as aranhas não se medem aos palmos!
Com o passar do tempo, a selecção natural encarregou-se de extinguir os artrópodes monstruosos do passado, os quais se encontram apenas representados entre nós por espécies de dimensões bem mais modestas. Curiosamente, as aranhas sofreram muito poucas alterações, e o record mundial vai hoje para a Heteropoda maxima, que atinge os 30 cm de envergadura com as patas abertas e cerca de 4,6 cm de comprimento do corpo.
Milhões de olhos     
Em ambientes favoráveis, as aranhas podem ser muito mais abundantes do que aquilo que pensamos. Alguns estudos concluíram que poderão existir cerca de cinco milhões por hectare de pastagem (no livro Invertebrate Zoology, publicado em 1994, estimaram-se 2.265.000 indivíduos por acre de terreno inculto inglês). Só para se ter uma ideia do que significa este valor astronómico, basta pensar que corresponde a metade da população portuguesa (colocada num espaço equivalente a um estádio de futebol). Se pensarmos que a maioria das espécies tem oito olhos (embora algumas apresentem apenas seis ou mesmo nenhum, como acontece com as cavernícolas), num único hectare haverá qualquer coisa como quarenta milhões de olhos de aranha!
Ao contrário do que acontece com outros artrópodes, que possuem olhos compostos, as aranhas têm apenas olhos simples e imóveis (também denominados “ocelos”), que se si­tuam geralmente na região cefálica. Atendendo ao seu número e disposição, as aranhas gozam de uma visão panorâmica de aproximadamente 360 graus. Por isso, não é de estranhar que fujam com rapidez quando nos aproximamos delas, muitas vezes antes mesmo de lhes termos posto a vista em cima.
O mais curioso é que muitas espécies possuem usualmente dois tipos de olhos: os diurnos (escuros e geralmente mais proeminentes) e os nocturnos (brilhantes à luz e geralmente pouco proeminentes). Algumas podem apresentar ainda olhos especializados na detecção de movimento, na captação de luz polarizada ou na interpretação do meio envolvente.
Os aracnídeos têm um esqueleto externo rígido e possuem o corpo dividido em duas partes: a anterior (prossoma), que resulta da fusão entre a cabeça e o tórax e é revestida por uma carapaça bastante dura, e a posterior (opistossoma), equivalente ao abdómen, que é normalmente mole e bolbosa.
No prossoma, além dos olhos, encontram-se ainda seis pares de apêndices articulados: as duas quelíceras, os dois pedipalpos e os quatro pares de patas locomotoras. O opistossoma é muito variável de espécie para espécie, tanto em forma como em tamanho e cor, sendo muitas vezes coberto por uma fina camada de pêlos que lhe confere um aspecto aveludado. Os padrões característicos são resultado da cor dos pêlos e da pigmentação do próprio corpo. Na face ventral, encontram-se vulgarmente seis fieiras (embora o número, tamanho e forma possam variar consoante a espécie) por onde sai a seda produzida em glândulas especiais, chamadas “sericígenas”. É também na zona ventral que se situam as aberturas respiratórias (que podem ser fendas pulmonares, fendas traqueais e/ou um espiráculo) e a abertura genital.
As quelíceras são utilizadas para segurar as presas durante o processo de alimentação e para injectar o veneno nas vítimas, que poderão ser tão diversificadas como a variedade de ambientes onde as aranhas vivem. Cada espécie tem a sua própria dieta alimentar, embora os insectos sejam, para quase todas, o prato principal. Porém, quando se trata de satisfazer a fome, “tudo o que vem à rede é peixe”, desde pequenas centopeias até outras aranhas.
Um dos aspectos mais interessantes das aranhas, amplamente explorado pela ficção científica, é o facto de possuírem digestão externa. Como explica Pedro Cardoso, “uma vez imobilizada a presa, a aranha regurgita os sucos digestivos que liquefazem os tecidos, podendo então absorver o líquido resultante”. Esta falta de maneiras à mesa não tem ajudado muito a criar simpatia por estes bichos.
Os pedipalpos assemelham-se a pequenas patas e podem ser usados com diferentes propósitos: para manuseamento, captura e mastigação das presas, para recolha de objectos (pequenas pedras ou restos de presas), para a limpeza do corpo, como apêndices sensoriais, para comunicação entre si (tanto através de sinais visuais como sonoros) e para acasalamento. Nos machos adultos, estão transformados, possuindo estruturas copulatórias que permitem a transferência de esperma para as aberturas genitais femininas.
Mitos e lendas
O simbolismo das aranhas tem estado presente em diferentes culturas e civilizações, desde o antigo Egipto, onde eram consideradas portadoras de boa sorte, até à Itália do século XIV, onde lhes foi imputado, erradamente, o tarantulismo (doença nervosa que se julgava resultante da picada de tarântula). Em Portugal, ainda nos nossos dias, cruzar-se com uma aranha é sinal de fortuna e de felicidade. Porém, a ligação das aranhas com práticas obscurantistas tem contribuído para acentuar o sentimento de repulsa e para passar de geração em geração mitos, crenças e falsidades. A prová-lo estão alguns provérbios populares: “quem não tem manha, morre no mar como a aranha” ou “quando chupa a abelha, sai mel; quando é a aranha, sai peçonha”.
Interessante é a forma como a mitologia grega atribui à deusa Atena a origem das aranhas. Segundo reza a lenda, esta deusa terá ensinado a arte de tecer a uma bela donzela de nome Aracne. A jovem aprendeu o ofício tão facilmente que das suas mãos saíam, sem grande dificuldade, primorosos tecidos. Certo dia, teve o atrevimento de confrontar a sua divina mestra com a confecção de uma esplêndida tapeçaria que representava os amores e os vícios dos deuses. Atena, enfurecida com a ousadia, rasgou a obra de arte, facto que terá levado Aracne a suicidar-se. Arrependida com o sucedido, a deusa terá ressuscitado a jovem, mas dando-lhe a forma de aranha, para que desse modo pudesse tecer a seu gosto durante toda a vida.
As habilidades das aranhas enquanto tecedeiras e as suas notáveis teias, autênticas obras de arte e prodígios de arquitectura, são dos seus poucos aspectos geralmente admirados. A construção das teias só é possível devido ao facto de possuírem glândulas abdominais que produzem seda­. A comunidade científica julga que a produção de seda e a construção de teias é um processo muito antigo. A comprová-lo parecem estar alguns fios de seda, a formar uma pequena teia, com 140 milhões de anos, encontrados fossilizados em âmbar.
Os fios de seda são utilizados pelas aranhas para vários fins: tecer as teias através das quais capturam as presas; confeccionar os ninhos que servem de abrigo aos seus ovos e à prole; envolver as presas, que após terem sido mortas são guardadas para posterior consumo; e dispersar os juvenis, que se lançam até novas paragens, ao sabor do vento, presos apenas por um longo fio de seda.
Embora todas as aranhas produzam seda, nem todas constroem teias. É o caso das “aranhas buraqueiras”, que escavam túneis no solo e os revestem de seda, tornando assim mais acolhedores os seus aposentos. A seda é formada por uma proteína, a fibroína, que pode distender-se até 20 por cento do seu comprimento original. É esta elasticidade que evita o rompimento das teias quando são atingidas por insectos pesados e a grande velocidade.
As teias podem ir desde alguns centímetros até vários metros de diâmetro (2,8 metros quadrados foi o máximo observado até à data). A maior teia alguma vez encontrada media cerca de 25 metros de comprimento (qualquer coisa como o tamanho de dois autocarros). Essa verdadeira obra de arte foi tecida por uma Caerostris darwini (assim chamada em homenagem a Darwin), descoberta em 2009, em Madagáscar. Curiosamente, apesar do tamanho descomunal das armadilhas sedosas desta espécie, elas parecem servir unicamente para capturar insectos como libélulas e efémeras.
A maioria das aranhas constrói ninhos com seda (ainda que possam usar também folhas, detritos e pedras), que servem para proteger a fêmea durante a postura e para protecção dos ovos. Dependendo das espécies,  o ninho pode ser construído propositadamente para as posturas ou ser o mesmo refúgio que a aranha utiliza durante todo o seu ciclo de vida.
Os ovos, habitualmente esféricos e com menos de um milímetro de diâmetro, nunca são depositados livremente no meio ambiente, mas sempre colocados em grupos compactos envolvidos por seda, as chamadas “ootecas” (cada uma pode conter entre dois e 2000 ovos). O facto de os ovos se encontrarem protegidos por ootecas apresenta diversas vantagens. Como lembra Ricardo Silva, estas vão desde a protecção oferecida contra predadores ou parasitas (uma vez que a seda possui propriedades antibióticas que protegem os ovos de serem atacados por fungos e bactérias), até à manutenção da humidade e da temperatura adequadas ao desenvolvimento embrionário, diminuindo desse modo a dependência das condições externas.
Até à primeira muda, que ocorre ainda no ninho, as aranhas recém-nascidas (incolores e sem pêlos) são incapazes de produzir seda e de procurar alimento. Só após duas ou três mudas é que os juvenis se tornam semelhantes aos adultos. Mesmo assim, ainda terão de passar por mais algumas mudas até atingirem a maturidade sexual e estarem em condições de legar os seus genes às gerações vindouras.
Aranhas portuguesas
“Por terras lusas, sabe-se muito pouco sobre estes bichos.” Quem o afirma é Pedro Cardoso, investigador do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, um dos poucos cientistas portugueses que têm dedicado a sua atenção a este curioso grupo de animais. No seu currículo, constam alguns dos mais recentes livros e artigos científicos sobre as aranhas que ocorrem no nosso país. Assina ainda a autoria do Catálogo das Aranhas de Portugal. Antes dele, apenas dois outros investigadores portugueses (Amélia Bacelar, da Universidade de Lisboa, e António de Barros Machado, da Universidade do Porto) se haviam dedicado de modo sistemático às pequenas aranhas portuguesas.
Determinado em mudar o rumo das coisas, tornando as aranhas e a aracnologia uma ciência do interesse público, está também Ricardo Silva, um jovem biólogo da Universidade de Évora que se deixou enamorar pelas aranhas por volta de 1997 e que acabou por torná-las a razão de ser da sua vida profissional. Aliás, onde a maioria das pessoas vê “monstros” e “animais repugnantes”, Ricardo encontra “beleza” e “curiosos animais”, como comprova o seu louvável esforço de criação e manutenção do já mencionado portal aranhas.info, criado em Dezembro de 2004, que se assume como local de reunião da mais variada informação sobre as aranhas em Portugal. Em torno desse sítio reúnem-se vários colaboradores que parecem apostados em retirar estes seres do esquecimento a que têm sido votadas pela comunidade científica. Com tanta informação disponível e tão belas fotografias, que evidenciam alguns dos segredos destes animais, não é difícil imaginar que o número de visitas não pare de aumentar e que sejam cada vez mais os entusiastas e os naturalistas amadores a deixar-se cativar pelas aranhas.
O crescente interesse por este grupo de animais, contrastando com décadas de esquecimento, tem começado a dar os seus frutos, uma vez que já são conhecidas em Portugal 746 espécies, de acordo com o mais recente Catálogo de Pedro Cardoso. Segundo Ricardo Silva, “este número aumenta todos os anos, o que mostra o quanto ainda nos falta conhecer sobre o nosso património natural”.
Predadoras eficazes
As aranhas conquistaram os mais diversos ambientes, espalhando-se praticamente por todos os recantos da Terra. Imagine-se que até vivem debaixo de água, como é o caso da aranha-de-água (Argyroneta aquatica), que ocorre na Europa Central e no Norte da Ásia. Os únicos locais onde parece que ainda não chegaram são as regiões polares e o interior dos oceanos, embora aí possam existir outros aracnídeos, como o caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus), considerado um fóssil vivo, uma vez que permanece quase inalterado desde há 300 milhões de anos. Com a ocupação de habitats tão diversificados e uma tão larga dispersão geográfica, não admira que sejam, actualmente, mais de 38 mil as espécies conhecidas.
Todas são predadoras, alimentando-se sobretudo de insectos e outros invertebrados, embora as maiores cheguem a capturar aves, lagartos e até pequenos mamíferos. O macho é, regra geral, muito mais pequeno do que a fêmea, e durante o acasalamento executa ritos nupciais de modo a assegurar o seu reconhecimento pela companheira. Estes cuidados são mais do que justificados, pois o canibalismo é frequente após a cópula e, como se imagina, o macho é habitualmente o acepipe.
As migalas, também conhecidas por tarântulas, aranhas-babuínos e aranhas-felpudas, rivalizam em tamanho com os maiores invertebrados terrestres vivos. Algumas têm o corpo com cerca de oito centímetros e as patas com uma envergadura de mais de vinte. Segundo o livro de records do Guiness, a maior aranha da actualidade foi encontrada na Venezuela, em Abril de 1995, e pertence à espécie Theraphosa blondi. Tratava-se de um bicho de deixar arrepiado até o mais destemido naturalista, uma vez que pesava cerca de 170 gramas (também é a aranha mais pesada do mundo!) e media 28 centímetros de envergadura, bem maior do que o tamanho de um prato (dos grandes). Por cá, as dimensões das aranhas são  bastante mais modestas, podendo as maiores atingir no máximo três centímetros (Lycosa narbonensis) e as mais pequenas apenas dois a três milímetros (pertencentes à famíliaDictynidae).
No que concerne à longevidade, conhecem-se aranhas sazonais (ciclo de vida com duração de seis a oito meses), aranhas anuais (ciclo de vida que dura cerca de um ano) e aranhas perenes, em que o ciclo biológico dura vários anos, geralmente entre dois e cinco. Ainda que possamos encontrar aranhas durante todo o ano, o ciclo de vida das espécies europeias é, em geral, anual ou bianual, dependendo da espécie e das condições ambientais. No entanto, na América conhecem-se espécies que podem viver mais de vinte anos.
Apesar de as detestarmos, as aranhas continuam a prestar-nos um inestimável serviço devido à enorme quantidade de insectos prejudiciais que eliminam. Agora que a aracnologia em Portugal parece querer dar os primeiros passos, não faltam motivos de interesse e todos os dias o conhecimento das aranhas lusitanas vai aumentando. Ainda recentemente, foi descoberta no nosso país uma nova espécie de aranha (Xysticus grallator). Segundo Ricardo Silva, “muito poucos exemplares foram encontrados até hoje e pouco se sabe sobre a biologia desta espécie que nunca tinha sido detectada em Portugal e só se conhecia em seis localidades em todo o mundo”.
J.N.

Picadas inofensivas
Apesar de quase todas as aranhas produzirem venenos neurotóxicos (que afectam o sistema nervoso) e necrosantes (que matam as células), a esmagadora maioria das espécies europeias não possui quelíceras (agulhas de veneno) suficientemente robustas para perfurar a pele humana. Por essa razão, “apenas uma ínfima parte das aranhas documentadas em Portugal podem apresentar perigo”, confirma Pedro Cardoso, que refere ainda que as excepções são “a viúva-negra mediterrânica (Lathrodectus tredecimguttatus) e a aranha-violino (Loxosceles rufescens)”, duas espécies relativamente comuns no nosso país. Segundo Ricardo Silva, a esta lista poderiam ainda juntar-se mais duas ou três aranhas com ocorrência em Portugal. No entanto, o facto de não serem espécies agressivas e de as suas picadas serem extremamente raras e não irem além de uma dor passageira dispensa referência. As informações que se seguem pretendem ser apenas um esclarecimento para perigos que são, na verdade, bastante remotos, não tendo como finalidade assustar as pessoas.
A viúva-negra, que herdou o seu nome do facto de matar o macho após a cópula, é uma pequena aranha, com pouco mais de um centímetro de comprimento, que apresenta uma carapaça negra brilhante ou avermelhada de onde se destacam, habitualmente, treze manchas vermelhas. Julga-se que poderá existir por todo o país, em lugares secos e ensolarados, com solos pedregosos ou de vegetação rasteira e escassa. Só a fêmea parece ser perigosa para o homem, e a gravidade da sua picada varia com a estação do ano e com a sensibilidade da vítima. Consideram-se casos mais graves, e por isso dignos de atenção especial, as picadas em crianças com menos de 15 quilos de peso, doentes coronários ou com hipertensão grave e mulheres grávidas.
A picada desta aranha pode quase não ser sentida, embora na maioria dos casos exista alguma dor localizada e se notem dois pontos vermelhos na zona do edema. Dez a quinze minutos após a picada, aparecem os primeiros sintomas, essencialmente neurotóxicos: agitação, abrandamento das frequências cardíaca e respiratória, cãibras musculares generalizadas, suores abundantes e hipersalivação. O tratamento consiste no repouso absoluto e na administração de analgésicos (a colocação de um cubo de gelo sobre o local da picada permite aliviar a dor). Todas as vítimas deverão ser conduzidas à presença de um médico o mais rapidamente possível. Em 95 por cento dos casos, os vitimados começam a recuperar no dia seguinte, acabando por curar-se em um ou dois dias.
A aranha-violino é responsável pela maioria das picadas tanto em Portugal como em Espanha, uma vez que habita geralmente em nossas casas, mais precisamente na parte posterior dos móveis. Trata-se de uma pequena aranha castanha cujo veneno citotóxico provoca necrose localizada dos tecidos. Na zona da picada, surge geralmente um edema local que, após um a dois dias, apresenta uma placa violácea com áreas hemorrágicas que acaba por evoluir para a morte dos tecidos. Como tratamento, sugere-se inicialmente uma cuidadosa limpeza da zona picada, a que se poderá seguir a aplicação de gelo e o posterior acompanhamento médico.
Num artigo publicado, em 2010, na Acta Médica Portuguesa, Pedro Cardoso e Paulo Almeida alertaram para o facto de as aranhas referidas acima poderem ser confundidas com espécies bastante mais comuns e inofensivas (Steatoda spp. e Pholcus spp., respectivamente), o que dificulta a identificação por não-especialistas. Acrescentaram ainda que o diagnóstico correcto de envenenamento por aranha deve passar sempre por uma série de passos: (1) confirmação ou observação do acto da mordedura, com verificação de sinais clínicos compatíveis com esta; (2) a aranha deve ser capturada imediatamente ou a seguir ao acto, morta ou viva; (3) identificação da aranha por um taxonomista. Terminavam o trabalho com um alerta à comunidade médica: “Na realidade, dada a sua raridade, as lesões por mordedura de aranha deveriam ser relegadas para o fim da lista do diagnóstico diferencial das lesões necróticas cutâneas.” Como se vê, a não ser que se sofra de aracnofobia, não vale a pena perder o sono por causa das picadas destes bichos.
Fonte: Super interessante – Setembro 2011

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Praias

fasf92,1% das águas balneares da União Europeia cumprem as normas mínimas de qualidade e mais de três quartos são mesmo “excelentes”, encontrando-se Portugal acima da média, segundo um relatório da Agência Europeia do Ambiente divulgado a 23 de Maio. Fotografia: Pedro Cunha
Fonte: Público

terça-feira, 19 de junho de 2012

Brasileiro refloresta sozinho parte da Mata Atlântica


Brasileiro refloresta sozinho parte da Mata Atlântica

Foto © Serra do Engenho Novo/Rodolfo Souza
Um professor brasileiro está a reflorestar sozinho uma parte da Mata Atlântica,  conjunto de florestas que ocupa grande parte do território do Brasil, do Paraguai e da Argentina. Em seis anos, Rodolfo Souza plantou cerca de 100 árvores na zona norte do Rio de Janeiro.
 
Todos os dias, antes de se dirigir para o colégio onde dá aulas de geografia, o docente sobe por um caminho próximo de casa munido de várias garrafas com cerca de 20 litros de água e vai regar as raízes das árvores ou protegê-las com inseticida em caso de necessidade.
 
"Gosto de fazer isto. Desde pequeno que planto árvores. O início do projeto foi difícil porque não sabia lidar com as formigas e plantava debaixo de outras árvores, o que não trazia bons resultados. Depois aprendi que precisava de plantar debaixo do sol e elas começaram a desenvolver-se", contou Rodolfo Souza, citado pela Agência Brasil.
 
Atualmente, das árvores que plantou - todas de espécies nativas brasileiras -, algumas ainda não ultrapassaram os 50 centímetros mas outras chegam já aos quatro metros de altura. Porém, e embora consiga dar conta do trabalho, o professor alerta que "o poder público tem de fazer mais".
 
De acordo com Rodolfo Souza, que não desiste dos seus esforços, as verdadeiras possibilidades de recuperar a vegetação estão nas mãos dos responsáveis do Rio de Janeiro e têm de ser "uma prioridade", em especial nas regiões mais secas e com menos espaços verdes.
 
Clique AQUI para descobrir mais sobre este projeto.

[Notícia sugerida por Vítor Fernandes]

domingo, 17 de junho de 2012

A horta no Verão


Com o calor do Verão não deixe secar a sua horta regando-a de manhã, ou preferencialmente, á tardinha quando a terra não está muito quente. Limpe regularmente as ervas infestantes para evitar a sua propagação, o que pode sufocar as culturas impedindo-as de crescer. No mês de Junho semeie alface, feijão, chicória, nabiças e rabanete e plante alface, chicória e couve-galega. Em Julho é a vez da cebola-comum, espinafres, ervilhas, salsa, nabos e cenouras. Mais para o fim do Verão impõe-se a preparação para as sementeiras de Outono: cave e regue os canteiros e enterre o estrume [ou composto vegetal] para enriquecer o terreno.
Fonte: ITAU 
[Esta publicação é de carácter simbólico] 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Reciclar - Vídeo de sensibilização [10.043 visitas]


Um copo de vinho por dia nem sabe o bem que lhe fazia!


Investigadores comprovam que bebida reduz risco 
de infecção por alimentos contaminados
2012-05-30
Por Susana Lage
A ingestão de vinho diminui o número de bactérias patogénicas presentes em alimentos contaminados
A Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Católica Porto tem realizado vários estudos que demonstram que a ingestão de vinho diminui o número de bactérias patogénicas presentes em alimentos contaminados.
A investigação em curso revela que a viabilidade dos organismos infecciosos é fortemente afectada quando estes são directamente expostos à acção do vinho devido às propriedades antimicrobianas presentes. Assim, pressupõe-se que a ingestão moderada desta bebida durante a refeição pode contribuir para a diminuição do número de bactérias patogénicas presentes em alimentos contaminados.
“Concluímos que o vinho exerce uma forte acção de inactivação dos organismos estudados”, afirma José António Couto ao Ciência Hoje.
Segundo o investigador da ESB, este efeito foi verificado em alimentos contaminados e em condições representativas do sistema gastrointestinal. Experiências realizadas in vitro com Listeria, Campylobacter jejuni e Bacillus cereus revelaram que “o vinho exerce um efeito de inactivação celular significativo, além do efeito do suco gástrico, contribuindo para a diminuição do número de células viáveis de bactérias patogénicas”.

José António Couto
A taxa e a extensão da inactivação dependem, no entanto, da matriz alimentar, devido ao conhecido papel de protecção microbiana conferido por certos componentes dos alimentos.
Além disso, os mecanismos responsáveis pelo efeito antimicrobiano do vinho não estão completamente esclarecidos. Outros trabalhos mostram que este efeito resulta de uma combinação complexa de vários factores/componentes do vinho que actuam de forma sinérgica.
Os investigadores da ESB pretendem agora aprofundar o estudo dos mecanismos responsáveis pela acção antimicrobiana do vinho.
Além disso, “pretendemos avaliar o efeito do vinho sobre os factores de virulência de bactérias patogénicas”, avança José António Couto.
Fonte: Ciência hoje

terça-feira, 12 de junho de 2012

Plástico ecológico


Um composto com as mesmas propriedades e aplicações do plástico convencional, mas procedente de fontes renováveis, 100% biodegradável e respeitador do ambiente. É assim que é descrito o Mater-Bi, um polímero feito a partir de amido de milho, trigo e batata e fabricado e comercializado pela Novamont (http://www.novamont.com). Segundo os responsáveis desta companhia italiana pioneira na investigação de bioplásticos, que no final de 2010 abriu a primeira bio-refinaria do mundo em Terni (Itália), a chave deste material revolucionário é a sua estrutura vegetal. Esta, ao contrário do que sucede com os polímeros convencionais derivados do petróleo, pode ser destruída pelos micro-organismos. Este facto não só possibilita a sua posterior transformação em compostagem de elevada qualidade (pode ser usado como adubo sem contaminar a terra), mas também poderia reduzir de forma considerável o impacto devastador do plástico tradicional sobre o ambiente. Teoricamente, a cultura de 800 mil hectares de milho poderia assegurar a produção de dois milhões de toneladas de bioplásticos.

Superinteressante – Setembro 2010 

Risco de extinção para mais de uma centena de pássaros da Amazónia

Em Portugal, várias espécies continuam ameaçadas
2012-06-08

O priolo continua com o estatuto de ameaçado de extinção (créditos: Pedro Monteiro)
O priolo continua com o estatuto de ameaçado de extinção (créditos: Pedro Monteiro)
O risco de extinção aumentou substancialmente para uma centena de espécies de aves da Amazónia. Duas espécies da Europa estão, também em grave perigo. Estes são os dados da actualização da Lista Vermelha da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) em 2012, divulgada hoje pela BirdLife International.
Em Portugal, há espécies que continuam com estatutos de ameaça, como o priolo, a águia-imperial e a pardela-balear, e precisam de programas de conservação reforçados.

No passado, já subestimámos o risco de extinção a que muitas espécies de aves da Amazónia estão sujeitas”, diz Leon Bennun, director de Política, Ciência e Informação da BirdLife. “No entanto, dado o enfraquecimento recente da legislação florestal brasileira, a situação pode ser ainda pior do que estudos recentes têm previsto”.

Algumas espécies parecem propensas a perder mais de 80 por cento de seu habitat nas próximas décadas. Estas foram colocadas na categoria mais alta de risco de extinção – «Criticamente em Perigo». Esta actualização é uma revisão abrangente, que se realiza a cada quatro anos, de todas as mais de 10 mil espécies de aves existentes no mundo.
A actualização mostra notícias preocupantes não apenas dos trópicos, mas também no Norte da Europa, onde mais de um milhão de patos-rabilongos Clangula hyemalis desapareceram do mar Báltico ao longo dos últimos 20 anos, resultando na queda do estatuto desta espécie para a categoria «Vulnerável».
As razões para este declínio ainda não estão claras, mas o destino de outro pato marinho, a negrola-d'asa-branca (Melanitta fusca) é ainda pior, com a espécie a ser reclassificada como «Ameaçada». “Esses números são assustadores. Temos certeza que as aves não se moveram para outro local, sendo que os números representam uma quebra real da população. A natureza generalizada do declínio aponta para que este esteja provavelmente relacionado com alterações ambientais em grande parte do Árctico e regiões sub-árcticas onde esta espécie nidifica”, diz Andy Symes, director do Programa Global de Espécies da BirdLife.
Mas nem todas as notícias são más. Há também exemplos do destino de uma espécie a ser revertido, apesar das probabilidades quase nulas. Nas Ilhas Cook, no Pacífico, a sustentada recuperação do kakerori Pomarea dimidiata, uma das aves mais raras do mundo, levou a que subisse de estatuto, sendo reclassificada como «Vulnerável».
Acções de conservação intensiva, especialmente através do controlo de predadores exóticos como ratos, salvou a espécie da extinção. A população desta ave é actualmente de 380 indivíduos, mais de dez vezes do que quando apresentou o seu número mais baixo.
Fonte: Ciência hoje

Florescimento invulgar de fitoplâncton registado no Árctico

Estudo realizado durante expedição ICESCAPE, da NASA, publicado na «Science»
2012-06-11



Uma expedição oceanográfica da NASA, realizada entre 2010 e 2011, no oceano Árctico, e cujos estudos são agora dados a conhecer, revela que esta água está a tornar-se rica em plantas marinhas microscópicas (fitoplâncton) essenciais para vida do mar. A descoberta, definida pelos cientistas como 'surpreendente', dá a conhecer uma nova consequência do aquecimento do clima e fornece pistas importantes para compreender o impacto das mudanças ambientais no oceano Árctico e na sua ecologia. O estudo é hoje publicado na «Science».
A expedição ICESCAPE (Impacts of Climate on EcoSystems and Chemistry of the Arctic Pacific Environment – Impacto do Clima no Ecossistema e na Química do Ambiente do Árctico e Pacífico) estudou as águas dos mares Beaufort e Chukchi e das costas oeste e norte do Alasca. Utilizando tecnologia óptica, os cientistas observaram o impacto da variabilidade ambiental no oceano em termos de biológicos, ecológicos e bioquímicos.
O fitoplâncton é a base da cadeia alimentar marinha. Pensava-se que este crescia no Árctico apenas durante o recuo do gelo, no Verão. Os investigadores acreditam agora que a diminuição da camada de gelo está a permitir que a luz do Sol chegue às águas mais facilmente, proporcionando o florescimento em sítios onde estes nunca tinham sido observados.
O fitoplâncton estava bastante activo, dobrando de número mais de uma vez por dia. Este crescimento está entre o maior alguma vez medido em águas polares.
Este rápido crescimento consome grandes quantidades de dióxido de carbono. O estudo conclui que será necessário, se estes florescimentos se tornarem comuns, reavaliar a quantidade de dióxido de carbono que entra naquele oceano através da actividade biológica.
Estes florescimentos podem ter implicações no ecossistema, que incluem a migração de espécies como baleias e pássaros. O fitoplâncton é ingerido por pequenos animais marinhos que, por sua vez, são alimento para animais maiores.
As alterações de época dos florescimentos podem provocar perturbações nos animais maiores que se alimentam dos mais pequenos e do próprio fitoplâncton. Pode ser mais difícil para as espécies migratórias chegar a tempo do ciclo de florescimento, o que significa menos alimento para estas.
Fonte:ciência hoje