terça-feira, 5 de julho de 2011

Mexilhões nos rios lusos:



Corbícula fluminea 
Os bivalves de água doce são animais que passam grande parte da sua vida enterrados na areia, cascalho ou lodo dos habitats dulçaquícolas (rios, ribeiras, charcos, lagos e valas) onde vivem, denominada por condição bentónica aquática. Em Portugal contam-se 16 espécies (15 autóctones e uma invasora). As 15 espécies nativas dividem-se por 2 ordens da classe Bivalvia sem qualquer relação evolutiva directa entre si. 6 espécies pertencem á ordem Unionoida (exclusiva da água doce), são bivalves de grandes dimensões conhecidos como mexilhões-de-rio, amêijoas-de-rio ou náiades, e 9 são da ordem Veneroida (que inclui tanto espécies marinhas como de água doce) cujos indivíduos são em geral muito pequenos, não indo além de 1 centímetro. De todos os mexilhões de rio que se podem encontrar em Portugal a jóia da coroa é o mexilhão-de-rio-do-norte, que possui aptidão para produzir pérolas, no entanto seria preciso capturar 3000 mexilhões adultos para encontrar uma única pérola, apesar de ser a espécie de maior longevidade entre os invertebrados (190 anos), na Península Ibérica raramente atinge mais de 60 anos. Vive exclusivamente em cursos de água fria (<20°C), límpidas, pobres em nutrientes (oligotróficas) e muito oxigenadas, sendo intolerante a qualquer tipo de poluição. Atinge a idade adulta entre os 10 e 15 anos de idade, medindo cerca de 6,5 centímetros podendo crescer até aos 15 centímetros, em Portugal raramente passam dos 10 centímetros.
Às espécies nativas que ocorrem nas águas doces portuguesas juntou-se desde finais de 1970 uma espécie invasora proveniente do Sudeste Asiático, a amêijoa-asiática ou Corbícula fluminea sendo introduzida de forma acidental ou intencional pelo Homem devido ao seu valor alimentar ou pela sua capacidade de filtrar a água. Outro bivalve estrangeiro é o mexilhão-zebra (Dreissena polimorpha) oriundo do Mar Cáspio, que chegou a Espanha e pode chegar a Portugal, estas 2 espécies já causaram problemas ao nível de estruturas hidráulicas e hidroeléctricas. As razões do declínio dos mexilhões de água doce são variadas podendo afectar directamente os bivalves ou o seu habitat, devem-se sobretudo a acções humanas que alteram as condições ambientais dos cursos de água nomeadamente devido á construção de barragens e açudes pois as albufeiras constituem um habitat totalmente desadequado para quase todas as espécies, dragagem e extracção de inertes que podem de uma só vez eliminar todos os bivalves de um local, á modificação do leito e das margens dos cursos de água, á poluição de origem agrícola, urbana ou industrial (visto serem intolerantes á poluição), á introdução de espécies exóticas invasoras que provocam predação como é o caso do lagostim-americano, ou competição como é o caso da amêijoa-asiática, ao desaparecimento dos seus hospedeiros (peixes) devido á diminuição das espécies autóctones e á sobre-exploração (que tem ainda pouco significado no nosso país) há que juntar os incêndios que elimina a vegetação que impede a entrada de sedimentos e que depois de dissolvidos na água diminuem a quantidade de oxigénio dissolvido que dá origem ao risco de sobrevivência dos mexilhões, principalmente os juvenis. Todos os mexilhões-de-rio são animais filtradores alimentando-se de detritos e plâncton que filtram da água através de um sistema de cílios (ou fios) podem condicionar a qualidade da água devido ao volume filtrado e também são bons bio-indicadores por serem sensíveis á poluição. Apesar da maioria dos mexilhões ser dióica, ou seja, os 2 sexos não estão presentes no mesmo animal existem excepções como é o caso da Margaritifera margaritifera que pode ser hermafrodita, contudo para se reproduzirem os machos libertam os gâmetas que as fêmeas podem utilizar para fertilizar os óvulos, depois de várias semanas de incubação as larvas chamadas gloquídios, procuram então um hospedeiro ao qual se fixam junto às guelras por um período que pode ir de alguns dias até 10 meses, porém algumas espécies são mais selectivas que outras por exemplo: as larvas de Anodonta anatina podem fixar-se a mais de 15 espécies de peixes, enquanto que as larvas de Margaritifera margaritifera parasitam somente membros da família Salmonidae como o salmão e a truta, e a Anodonta cygnea e a Unio sp. Somente peixes da família Cyprinidae como a carpa. Os métodos para conseguir parasitar são variados e vão desde ganchos á libertação de larvas coincidindo com o fluxo migratório dos peixes ou á imitação de larvas de insectos de modo a atrair hospedeiros que andam em busca de alimento. Esta estratégia ajuda á disseminação (ou dispersão) destes bivalves.


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