segunda-feira, 11 de julho de 2011

Anfíbios do Mindelo – Portugal:


 
Após décadas de esquecimento a que foi votada pelas entidades governamentais para a conservação da Natureza e pelas populações locais, a reserva ornitológica do Mindelo (a primeira área protegida portuguesa, criada em 2 de Setembro de 1957) viu finalmente reconhecido o seu estatuto e reclassificada a sua designação, que passou a ser de “Paisagem protegida do litoral de Vila do Conde e reserva ornitológica do Mindelo”, desde 12 de Outubro de 2009. Todavia é ao nível dos anfíbios que este refúgio natural merece destaque, pois foram aqui observadas 14 das 17 espécies de anfíbios de Portugal, onde se salientam as presenças, nos urodelos (anfíbios com cauda na fase adulta), do tritão-palmado (Triturus helveticus) e da salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl) e, nos anuros (anfíbios sem cauda na fase adulta), da rela (Hyla arbórea) e do sapinho-de-verrugas-verdes (Pelodytes punctatus), cuja localização constitui a sua população costeira mais setentrional. Todas as espécies de anfíbios que ocorrem na Península Ibérica necessitam de meios aquáticos apropriados para concluírem o seu ciclo biológico, designadamente para completar a fase larvar obrigatoriamente dependente de água, influenciada por 2 factores intimamente relacionados, como o hidroperíodo (duração da massa de água) e a ocorrência de predadores. Assim, a escolha para depositar ovos e para o desenvolvimento larvar é um compromisso entre esses 2 factores, pois a reprodução em charcos temporários diminui o risco de predação das larvas, mas aumenta o perigo de dessecação que pode resultar em mortalidade. A opção de águas permanentes garante o habitat aquático, mas implica a coexistência com predadores vertebrados (peixes) e invertebrados (lagostins, larvas de libélulas, etc.). Neste caso a presença de vegetação aquática que assegure esconderijo, pode oferecer condições óptimas para muitas espécies. Calcorrear os areais dunares e visitar os charcos e ribeiros durante a época de reprodução (nas noites húmidas e quentes de Março a Julho) era uma boa experiência. Os chamamentos sexuais ou cantos específicos de cada espécie de anuro e amplificados pelos sacos vocais formavam coros nocturnos que se ouviam á distância, eram sinais de cortejos nupciais e azáfama reprodutiva. A peculiaridade da sua vida dupla (significado da palavra anfíbio) torna-os duplamente vulneráveis. O facto de respirarem pela pele, que precisa estar sempre húmida para facilitar a troca de gases, torna-os sensíveis a variações de humidade e temperatura, bem como a fácil absorção de quaisquer substâncias contaminantes que existam no meio, tal como os ovos que são permeáveis e desprovidos de qualquer camada de protecção, factos estes que têm contribuído para o seu declínio a par da degradação e perda de habitats e a poluição (de origem doméstica, industrial ou agrícola), o aquecimento global, chuvas ácidas ou parasitas e a introdução de espécies exóticas invasoras, factores que podem ocorrer em conjunto, deixando antever o destino dos anfíbios. No caso do Mindelo, a construção aumentou 600% e as zonas húmidas baixaram 70%, extracção de areias, destruição do cordão dunar, deposição ilegal de lixo, poluição das águas, espécies invasoras, terraplanagem de lagoas e charcos contribuíram para a destruição destes habitats onde os anfíbios procuravam refúgio e condições adequadas para a sua reprodução.
Fonte: Super interessante

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