Estendendo-se
por 120 hectares, o Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro, em pleno campus universitário de Vila Real, é
uma das coleções vivas mais importantes de Portugal e a maior da península
Ibérica. A nível europeu, só é superado pelos Kew
Gardens, os majestosos jardins londrinos.
Considerado um exemplo raro daquilo que pode
ser o desenvolvimento sustentável num espaço moderno, o Jardim Botânico da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro tem o condão de aliar a natureza
no seu estado mais puro com a comunidade académica que por lá se passeia.
Variedades de fruteiras, domésticas e
silvestres, plantas aromáticas e medicinais, plantas de cobertura e vinhas
fazem parte das coleções temáticas que habitam este espaço. As ericáceas, as
fagáceas, as mediterrânicas calcícolas e silicícolas, as plantas arcaicas e
resinosas adensam a beleza deste lugar ornamentado.
O reconhecimento internacional chegou por
altura do 1.º Simpósio da Associação Ibero-Macaronésica de Jardins Botânicos,
em 27 de Maio de 1988. António Crespí é professor da academia transmontana e,
atualmente, membro da comissão científica que dirige o jardim. A
possibilidade de usar este espaço como laboratório ao ar livre acaba por ser
uma dádiva. “Existe uma ligação íntima entre o Jardim Botânico e a docência.
Todo este espaço é uma enorme sala de aulas em constante movimento e
evolução”, refere.
Coleção em expansão
No
Jardim Botânico, há agora cerca de 800 espécies vivas e catalogadas,
oriundas, na sua maioria, da bacia mediterrânica e da metade oeste da
península Ibérica. O número tende a aumentar, pois sempre que há expedições a
outras regiões ou países são trazidos novos frutos, sementes e estacas para
enriquecer o espólio. Partilhando deste espírito, houve até um aluno que,
numa visita ao campo de concentração nazi de Auschwitz, recolheu sementes deQuercus petrae, que com
pouco mais de um ano de vida foram cedidas à UTAD.
Para além desta herança botânica viva,
existem ainda as espécies protegidas e catalogadas no herbário. “No banco de
germoplasma, estão já cerca de 25 mil espécies secas, mas com o seu ADN
completamente preservado. Estas espécies provêm do mundo inteiro, dos dois
hemisférios e de todos os continentes”, esclarece o professor.
Neste
santuário de biodiversidade cuidado em permanência por seis jardineiros,
vivem também algumas espécies protegidas. Segundo Crespí, serão cerca de uma
dúzia aquelas que recebem dos técnicos do jardim botânico uma especial
atenção. Entre elas, contam-se a Digitalis purpurea subsp. amandiana,
a Ononis viscosa subsp. pedroi e a Paradisea
lusitanica. Esta última é considerada um “endemismo muito
localizado na península Ibérica, uma preciosidade extremamente invulgar”. A
espécie protegida mais visível é o azevinho, um arbusto que se vê em
abundância na época do Natal, mas que se encontra seriamente ameaçado em
Portugal.
Graças às excelentes condições de habitat que o jardim oferece,
ao nível da busca de alimento, podem também ser ali observados alguns animais
que, à partida, seriam pouco expectáveis. Já foram identificados sinais da
presença de animais de maior porte, como javalis ou raposas, mas o mais
habitual é que toupeiras, aves de todo o tipo e alguns esquilos surpreendam,
por vezes, um professor, um aluno ou um visitante mais atento.
D.F.
SUPER
163 - Novembro 2011
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terça-feira, 6 de novembro de 2012
Santuário atrás dos montes
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