terça-feira, 6 de novembro de 2012

Santuário atrás dos montes

Um dos maiores jardins botânicos da Europa
Estendendo-se por 120 hectares, o Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em pleno campus universitário de Vila Real, é uma das coleções vivas mais importantes de Portugal e a maior da península Ibérica. A nível europeu, só é superado pelos Kew Gardens, os majestosos jardins londrinos.
Considerado um exemplo raro daquilo que pode ser o desenvolvimento sustentável num espaço moderno, o Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro tem o condão de aliar a natureza no seu estado mais puro com a comunidade académica que por lá se passeia.
Variedades de fruteiras, domésticas e silvestres, plantas aromáticas e medicinais, plantas de cobertura e vinhas fazem parte das coleções temáticas que habitam este espaço. As ericáceas, as fagáceas, as mediterrânicas calcícolas e silicícolas, as plantas arcaicas e resinosas adensam a beleza deste lugar ornamentado.
O reconhecimento internacional chegou por altura do 1.º Simpósio da Associação Ibero-Macaronésica de Jardins Botânicos, em 27 de Maio de 1988. António Crespí é professor da academia transmontana e, atualmente, membro da comissão científica que dirige o jardim. A possibilidade de usar este espaço como laboratório ao ar livre acaba por ser uma dádiva. “Existe uma ligação íntima entre o Jardim Botânico e a docência. Todo este espaço é uma enorme sala de aulas em constante movimento e evolução”, refere.
Coleção em expansão

No Jardim Botânico, há agora cerca de 800 espécies vivas e catalogadas, oriundas, na sua maioria, da bacia mediterrânica e da metade oeste da península Ibérica. O número tende a aumentar, pois sempre que há expedições a outras regiões ou países são trazidos novos frutos, sementes e estacas para enriquecer o espólio. Partilhando deste espírito, houve até um aluno que, numa visita ao campo de concentração nazi de Auschwitz, recolheu sementes deQuercus petrae, que com pouco mais de um ano de vida foram cedidas à UTAD.
Para além desta herança botânica viva, existem ainda as espécies protegidas e catalogadas no herbário. “No banco de germoplasma, estão já cerca de 25 mil espécies secas, mas com o seu ADN completamente preservado. Estas espécies provêm do mundo inteiro, dos dois hemisférios e de todos os continentes”, esclarece o professor.
Neste santuário de biodiversidade cuidado em permanência por seis jardineiros, vivem também algumas espécies protegidas. Segundo Crespí, serão cerca de uma dúzia aquelas que recebem dos técnicos do jardim botânico uma especial atenção. Entre elas, contam-se a Digitalis purpurea subsp. amandiana, a Ononis viscosa subsp. pedroi e a Paradisea lusitanica. Esta última é considerada um “endemismo muito localizado na península Ibérica, uma preciosidade extremamente invulgar”. A espécie protegida mais visível é o azevinho, um arbusto que se vê em abundância na época do Natal, mas que se encontra seriamente ameaçado em Portugal.
Graças às excelentes condições de habitat que o jardim oferece, ao nível da busca de alimento, podem também ser ali observados alguns animais que, à partida, seriam pouco expectáveis. Já foram identificados sinais da presença de animais de maior porte, como javalis ou raposas, mas o mais habitual é que toupeiras, aves de todo o tipo e alguns esquilos surpreendam, por vezes, um professor, um aluno ou um visitante mais atento.

D.F.

SUPER 163 - Novembro 2011

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