Os anticancerígenos mais potentes crescem na
natureza, embora continuemos a desconhecer como funcionam exatamente.
No
laboratório do médico canadiano Richard Béliveau “pairava um aroma
extremamente apetitoso, em contraste com o habitual odor a compostos químicos
e detergentes”, evocava o recentemente falecido David Servan-Schreider no
livro Anticancro. A resposta
para o mistério é que a equipa daquele especialista em medicina molecular da
Universidade de Montréal estava a cozinhar (literalmente) um fármaco para
administrar a ratos com cancro do pulmão. Era possível comprar os
ingredientes no supermercado mais próximo: couves-de-bruxelas, brócolos,
alho, cebolinho, curcuma, pimenta preta, mirtilos, toranja e uma pitada de
chá verde. Os roedores tratados com aquele cocktail pareciam melhorar a
olhos vistos.
Servan-Schreider, que sobreviveu durante 19
anos a um tumor cerebral, era um adepto incondicional daquilo a que Béliveau
chama “nutracêuticos”, ou seja, alimentos com poderes terapêuticos. Todavia,
esse entusiasmo não é partilhado por toda a comunidade científica, pelo menos
no que diz respeito ao cancro. Desde a década de 1970, quando se começaram a
ponderar as virtudes da fruta e dos vegetais, as investigações entraram
demasiadas vezes em ponto morto. Recentemente, Tim Key, da Universidade de
Oxford (Reino Unido), cruzou os dados de dezenas de estudos ao longo de duas
décadas e chegou a uma desoladora conclusão: pelo menos no Ocidente, a dieta
verde não produz efeitos significativos.
As associações entre cancro e fatores
alimentares “são difíceis de avaliar”, pois a alimentação é “muito complexa”
e “o cancro demora muitos anos a desenvolver, pelo que é difícil perceber o
papel dos alimentos ao longo das várias fases”, diz Nuno Lunet, investigador
da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que exemplifica: “Frutos e
vegetais têm um fator protetor, mas isso não vale para todos os cancros.” No
entender deste especialista, mais consensual é que “o controlo do peso é um
fator essencial” para a saúde.
Com efeito, suspeita-se que a obesidade e o
excesso de peso talvez estejam por detrás de cerca de um terço dos tumores
malignos. Por outro lado, em termos de prevenção, há médicos que atribuem
virtudes protetoras a determinadas verduras crucíferas, como os brócolos, a
couve-flor ou as couves-de-bruxelas. O que terão estes vegetais e outros
candidatos habituais a possuir propriedades anticancerígenas, como os frutos
silvestres ou o tomate? Pois bem: um verdadeiro arsenal de substâncias agrupadas
sob o rótulo de fitoquímicos.
Com efeito, é com estes compostos (luteínas,
polifenóis, carotenóides, flavonóides...) que os seres vivos que crescem no
solo se protegem contra as infeções, os raios ultravioleta e as inclemências
do tempo. A suspeita surge ao constatar, por exemplo, que a população
japonesa consumidora de chá verde sofre muito menos de tumores pulmonares,
circunstância atribuída ao polifenol catequina.
O problema é que não basta empanturrar-se de
fitoquímicos para escapar da doença, pois há inúmeras variáveis com
influência, desde a capacidade genética para assimilá-los até à altura em que
começaram a ser incluídos na alimentação. Um caso particular é o da soja, que
apenas parece funcionar se for consumida, o mais tardar, a partir da adolescência.
Ainda nos falta saber muito sobre os nutracêuticos, mas contam, à partida,
com uma vantagem indiscutível: não têm efeitos secundários.
P.C.
SUPER
163 - Novembro 2011
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terça-feira, 6 de novembro de 2012
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