domingo, 6 de novembro de 2011

Investigação portuguesa determina contaminação por dioxinas no estuário do Mondego

Primeiro estudo a nível mundial revela que existe bioacumulação de dioxinas no meio marinho
2011-11-02
Por Luísa Marinho
Num estudo pioneiro, um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra, conseguiu determinar valores de referência da contaminação por dioxinas na cadeia alimentar dos estuários.Em conversa com o «Ciência Hoje», Miguel Pardal, do Centro de Ecologia Funcional daquela universidade, explicou que a mais-valia deste estudo, realizado no estuário do Mondego, foi perceber que existe “uma bioacumulação de dioxinas no meio marinho”. Ou seja, as dioxinas vão acumulando-se ao longo da cadeia alimentar. Os peixes, no topo da cadeia, são os que possuem mais destes compostos, nomeadamente, o robalo, o linguado e a solha.“As dioxinas são compostos poluentes que se criam com a queima de resíduos industriais ou nas queimadas das florestas”, explica o investigador. Quando a equipa, na qual participam também Fernando Ramos e a bolseira de doutoramento Margarida Nunes, decidiu estudar aquele estuário, sabia, à partida, que não iria encontrar níveis muito elevados de dioxinas, pois está numa zona pouco industrializada.
“A ideia foi mesmo começar ao contrário. Normalmente, começa-se a estudar sítios onde se sabe que existem em maior concentração, mas nós queríamos mesmo determinar níveis que pudessem servir de referência para estudos futuros”, explica.
Como não há monitorização nem estudos prévios nesta área (apesar de existirem limites legais de concentração de dioxinas em animais de consumo humano, como o frango), a equipa fez a caracterização de toda a cadeia trófica – fauna e flora – do estuário.
Apesar da quantidade de dioxinas encontrada em todos os organismos estarem dentro dos limites legais no estuário estudado, os investigadores perceberam que a concentração aumentava à medida que aumentava o nível trófico. Deste modo, “uma alga pode ter pouca concentração”, mas o elemento seguinte da cadeia alimentar acumula as dioxinas desta com as que já tem e assim sucessivamente.
Este trabalho é o primeiro passo para se compreender até que ponto os peixes ao longo da vida vão acumulando dioxinas e em que medida isso pode ser prejudicial para a saúde pública.
O próximo passo será estudar outros estuários, o que já começou a ser feito com o apoio do Ministério da Alimentação, Agricultura e Pesca francês, e depois tentar compreender o que acontece quando os peixes saem da “maternidade” que são os estuários e vão para o mar.
Os resultados do estudo estão publicados na revista «Chemosphere».
Fonte: Ciência Hoje.pt

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