sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A flora do litoral arenoso:


As mantas arenosas e os ecossistemas dunares que lhe estão associados constituem sistemas de elevada fragilidade, e formam importantes reservatórios de areia que funcionam como barreiras defensivas de reconhecida eficácia contra os avanços do mar, principalmente em ocasião de temporal. Também evitam a contaminação de aquíferos continentais pela água salgada, a salinização dos solos (especialmente os reservados para agricultura), a destruição de infra-estruturas (casas, estradas, etc.) e a abrasão marítima das falésias, entre outras. A vegetação dita dunar, exclusiva do litoral arenoso, encontra-se adaptada a um meio agreste de substrato instável. Merece realce pelas suas peculiaridades biológicas e pelo inestimável papel que desempenha na estabilização de areias e na formação de sistemas dunares que, embora sejam constantemente modelados por brisas e tempestades, constituem a melhor protecção contra a erosão costeira. Desde as areias irrequietas da preia-mar até aos solos mais estabilizados do interior, podem distinguir-se várias comunidades de plantas que, conforme aumente a distância ao mar e se vão aquietando os ventos e as areias, se tornam cada vez mais complexas e com maior número de espécies. Por exemplo, no litoral norte de Portugal, na primeira linha vegetal, chamada duna embrionária, só algumas plantas anuais muito resistentes conseguem sobreviver, porque os riscos de submersão por água do mar e o enterramento por areias são constantes, a título de exemplo temos o feno-das-areias (Elimus farctus), o sapinho-da-praia (Honckenya peploides), a eruca-marítima (Cakile maritima), a barrilheira (Salsola kali), e a corriola-marinha (Polygonum maritimum).    
Mais além, na duna primária ou duna branca, surgem comunidades herbáceas vivazes dominadas pelo estorno (Ammophila arenaria), acompanhado por outras espécies, como a luzerna-das-praias (Medicago marina), os cordeirinhos-das-praias (Otanthus maritimus), o cardo-marítimo (Eryngium maritimum), a morganheira-das-praias (Euphorbia paralias), e o lírio-das-praias (Pancratium maritimum), entre outras. Os tapetes de estorno são verdadeiros protectores das dunas, com uma média de crescimento de 1 metro quadrado por ano e uma extensa rede de raízes sobre os montículos de areia sustêm as dunas e criam condições para que outras plantas dunares possam aí sobreviver. Nas áreas estabilizadas da duna secundária ou duna cinzenta, onde domina a madorneira (Artemisia campestris), aparecem também a granza-da-praia (Crucianella maritima), a luzerna-das-praias, o lírio-das-praias, o estorno e o goivo-da-praia (Malcomia littorea). Mais para o interior surgem ainda o saganho-mouro (Cistus salvifolius), e alguns endemismos como a Jasione lusitanica (que apenas ocorre nas costas do noroeste peninsular), a camarinha (Corema album) e a Centaurea spharaerocephala, que são ambas endemismos ibéricos. Finalmente sobre as areias consolidadas ocorrem povoamentos antigos de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) sob os quais se desenvolvem tojais (plantas com espinhos), dominados sobretudo pelo tojo-arnal (Ulex europaeus). Embora em muitos locais da beira-mar seja habitual a presença dos chorões (Carpobrotus edulis), convém não esquecer que esta planta não é espontânea de Portugal, trata-se na verdade de uma espécie exótica invasora oriunda da África do sul que foi trazida para decoração, acabando infelizmente por ser usada na fixação de dunas e taludes. O seu vigoroso crescimento leva á formação de extensos tapetes contínuos e impenetráveis que substituem rapidamente as espécies nativas, constituindo por isso uma ameaça para as restantes plantas dunares. Por isso deve evitar-se a sua propagação para outros locais, uma vez que basta um pedaço (uma vez que enraíza facilmente) para se formarem novos focos de invasão. Existe também fauna exclusiva dos sistemas dunares, nos insectos temos: borboletas, gafanhotos, aranhas, louva-a-deus, grilos-da-areia, bichas-cadelas-da-areia, e formigas-leões-da-areia. Anfíbios como: o sapo-de-unha-negra e o sapo-corredor que costumam aparecer em noites húmidas. Répteis como: o sardão, a lagartixa-de-Carbonell e a lagartixa-de-dedos-dentados. Mamíferos como: o ouriço-cacheiro, o coelho e a raposa, que deixam marcas na areia. E aves marinhas que ali vivem á procura de alimento, abrigo ou para se reproduzirem (borrelhos, pilritos, e gaivotas, entre outras). Este ambiente é bastante hostil para os seres vivos que ali vivem, a elevada salinidade do ar e da água, os ventos por vezes muito fortes, a baixa retenção de água e a falta de nutrientes do solo arenoso, a intensa mobilidade dos grãos de areia, o impacto de partículas sólidas sobre os organismos, o risco de enterramento nas areias e de submersão pelo mar, a forte insolação, o aquecimento do solo e as elevadas amplitudes térmicas diárias e anuais são apenas alguns exemplos.                                                                                                           
As principais adaptações da flora dunar localizam-se sobretudo ao nível das raízes e folhas, uma vez que as plantas das dunas precisam retirar água de um meio onde esta é escassa e também precisam reduzir as suas perdas por evaporação. As raízes são geralmente fundas e surgem assim como órgãos especializados em alcançar os parcos nutrientes dos areais, bem como assegurar a captação e retenção desse líquido essencial, a água. No caso do estorno, as raízes estão transformadas em rizomas que se apresentam longos e formam redes sob a areia. São eles que contribuem para a recolha e retenção do máximo de água possível, garantindo a esta planta um lugar insubstituível na estabilização e protecção das dunas. Outras espécies como o lírio-das-praias, apresentam raízes na forma de bolbos grandes e carnudos que funcionam como reservatório de água e nutrientes. As folhas, por seu lado, precisam resistir á insolação e á perda excessiva de água, enquanto continuam a fazer as trocas gasosas com o meio e a fotossíntese (processo que garante ás plantas o seu próprio alimento e a libertação de oxigénio). De modo a responderem a esses desafios em simultâneo, a evolução dotou-as de engenhosas soluções, que surgem aos olhos dos leigos como a face mais visível das adaptações á vida dunar. O cardo-marítimo, por exemplo, apresenta folhas largas e finas revestidas por uma camada cerosa que as impermeabiliza e lhes dá um aspecto brilhante e uma textura coriácea. Já os cordeirinhos-da-praia optaram pela microfilia (reduzir as dimensões da folha) e além disso, exibem um denso tomento branco, lanoso, que protege da insolação e mantém simultaneamente uma fina camada de ar húmido em torno das estruturas foliares. A luzerna-das-praias ostenta indumentos de pêlos compridos, de modo a reflectir a luz. A eruca-marinha e a barrilheira combatem a falta de água através de folhas e estruturas suculentas. A morganheira-das-praias resolve o problema da falta de água aumentando a tensão osmótica interna, através da produção de substâncias que conferem um aspecto leitoso á sua seiva (liquido nutritivo que circula nas plantas). O estorno, bem como outras gramíneas da praia, reagem ao tempo seco e ventoso enrolando as suas folhas ao longo da sua nervura central. Desse modo diminuem a superfície de evaporação e criam canais úteis para recolher o orvalho nocturno (procedimento essencial para sobreviverem aos rigores do estio – Verão). Já o feno-das-areias, dada a sua ocorrência em dunas embrionárias onde as condições são muito agrestes, leva ainda mais longe a adaptação das folhas: apresenta-as lineares, lisas e brilhantes na parte superior e enrugadas como um fole na parte inferior. Assim, enquanto a superfície brilhante está impermeabilizada por uma película cerosa que reflecte a luz solar e isola da acção directa da salsugem, a face inferior, enrugada, cria um ambiente abrigado onde ocorrem as trocas gasosas, minimizando desse modo as perdas de água.
A construção de esporões artificias de forma perpendicular á costa vieram alterar a deriva litoral, ou seja, o movimento de sedimentos ao longo das praias. Como consequência assiste-se a uma maior concentração de areia de um dos lados, (na zona de acreção que se costuma situar a norte) e uma intensa erosão do outro lado (que se costuma localizar a sul).
 Fonte: Super interessante

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