terça-feira, 23 de outubro de 2012

David Silva quer devolver as cinzas à terra


Projecto contribui para reciclagem de nutrientes no ecossistema florestal

2012-10-23
Por Susana Lage
David Silva
David Silva
David Silva, doutorando da Universidade de Aveiro, está a desenvolver um projecto que pretende contribuir para a gestão ambiental das cinzas de biomassa tendo em vista a produção de energia térmica e eléctrica em Portugal.

“Como as cinzas têm um elevado poder alcalino, de pH superior a 10, e alguns nutrientes essenciais às plantas, como o cálcio, potássio e fósforo, o intuito é de aproveitar essas potencialidades das cinzas para integração no solo, na perspectiva de reciclagem de nutrientes e fertilização do solo, em resultado da extracção de biomassa com objectivos industriais”, afirma ao Ciência Hoje.
O estudo do jovem investigador valeu-lhe recentemente o prémio de melhor poster na 4ª Conferência Internacional sobre Engenharia de Resíduos e Valorização de Biomassa, que este ano se realizou no Porto.

Apesar do trabalho estar numa fase intermédia, os resultados obtidos até ao momento evidenciam que“existem diferenças entre as cinzas volantes e as de fundo em termos de composição química. As cinzas volantes concentram maiores quantidades de metais pesados do que as de fundo e apresentam maior potencial de aplicação no solo, uma vez que contêm maior quantidades de nutrientes essenciais às plantas como o potássio, cálcio ou fósforo e pH elevado. Estas propriedades conferem oportunidades para a correcção da acidez de solos e para a reciclagem de nutrientes, compensando deste modo a extracção de biomassa da floresta para a produção de energia”, explica David Silva.

Segundo o aluno, “as cinzas volantes mostram também valores de carbono superior às de fundo. “Esta característica é outra vantagem da utilização da cinza volante no respeita ao sequestro/reposição de carbono no solo”, diz.

A valorização material das cinzas de biomassa como correctivo de acidez ou como fertilizante em solos florestais e agrícolas poderão ser oportunidades emergentes, aproveitando as potencialidades alcalinas e fertilizantes das mesmas. Assim, a reciclagem de cinzas no solo florestal irá exercer um contributo importante para a reciclagem de nutrientes no ecossistema florestal, fechando desta forma, o ciclo da cadeia de valor da biomassa florestal residual para a energia.

Para David Silva, tendo em conta que não existe legislação nesta área, a criação de linhas orientadoras para a aplicação de cinza no solo será um contributo importante para a implementação de legislação sobre a gestão e qualidade ambiental das cinzas provenientes da cadeia de valor da biomassa para a energia.

O assunto interessa não só a indústria, mas também no que respeita à prevenção e redução da quantidade de resíduos destinada a aterros (prática comum em alguns meios industriais). “Com estes resultados e com a observação de alguns investigadores internacionais que já documentaram de que a aplicação da cinza no solo pode provocar ‘queimaduras’ graves nas plantas e na mortalidade do biota em geral, devido à subida drástica do pH do solo, o próximo trabalho irá centrar-se em avaliar alguns tratamentos da cinza que mitiguem esses mesmos impactes negativos sobre o ambiente, evitando assim o uso de outras opções de gestão mais nefastas para o ambiente e saúde pública, como o caso dos aterros”, refere.
Fonte: Ciência hoje.pt

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