Quarta-feira, 09 de Maio
de 2012
Fotos © Gonçalo Rosa
Uma equipa de
investigadores liderada por um português descobriu, na Reserva de Betampona,
uma pequena área de floresta tropical em Madagáscar, um total de 76 espécies de
rãs diferentes, 36 das quais são potencialmente novas para a Ciência. Em
entrevista ao Boas Notícias, Gonçalo Rosa, que coordenou a investigação, afirma
que este é um achado "extraordinário". CATARINA FERREIRA
A aventura começou em
2004, com uma curta visita a Betampona, mas a investigação aprofundada só teve
início três anos mais tarde, em 2007, com uma nova expedição científica.
"Nesse ano, passei
cerca de sete meses a acampar na reserva. Muito trabalho pela noite fora à
procura de anfíbios em charcos, rios e ribeiras, a subir árvores para gravar um
macho a cantar, e muito poucas horas de sono!", relembra o biólogo
português. "Esse período resultou, depois, em muitos dias, semanas, meses
a analisar dados, numa tentativa de cruzar ao máximo possível toda a
informação".
Com o objetivo de caraterizar a fauna
local de anfíbios, Gonçalo Rosa e os colegas apostaram numa abordagem integrada
que combinou "o estudo dos traços morfológicos, ecológicos, genéticos e
dos próprios cantos dos exemplares que foram recolhidos".
Segundo o especialista,
esta abordagem integrada foi, aliás, o elemento chave do estudo, entretanto
publicado na revista Biodiversity and Conservation. "Esta abordagem é cada
vez mais essencial nos dias de hoje para resolver o estatuto real de uma
espécie que se afirma ser 'nova' com base apenas num aspeto, como a morfologia
ou a genética", explica Gonçalo Rosa.
"Com uma análise
integrativa existe uma maior robustez aquando da identificação de uma espécie,
dado que muitas delas são crípticas e muito similares morfologicamente, o que
torna impossível aplicar um critério isolado para as diferenciar",
esclarece.
"Números de anfíbios em Betampona são ainda um mistério"
"Números de anfíbios em Betampona são ainda um mistério"
O longo trabalho
efetuado culminou na descoberta de um total de 76 espécies, das quais 36 são
potencialmente novas para a Ciência e 24 são potencialmente endémicas, isto é,
são apenas conhecidas naquela área florestal e não existem em qualquer outro
lugar do mundo.
"Honestamente,
estes números de anfíbios em Betampona são ainda um mistério!", admite
Gonçalo Rosa, que salienta que o achado é "espantoso, não só pela
diversidade incrivelmente elevada mas pelo número impressionante de potenciais
endemismos".
Os números são ainda
mais "extraordinários" quando comparados com os observados noutras
florestas tropicais da ilha mas também quando pensados num contexto mundial.
Isto porque Betampona é, de acordo com o investigador "um fragmento de
floresta muito peculiar e minúsculo".
Projeto apoiado por fundos internacionais
Projeto apoiado por fundos internacionais
Apesar das várias
tentativas falhadas para obter financiamento proveniente de empresas
portuguesas para o projeto - "a maioria não respondeu" às cartas
enviadas e as poucas respostas obtidas "declinaram a colaboração" - o
biólogo conseguiu ajuda no estrangeiro para avançar com os trabalhos.
"Recorremos a bolsas e fundos
internacionais que foram essenciais para o desenrolar do estudo. As principais
fontes foram uma bolsa do Wildcare Institute do Zoo de Saint Louis, o Museu
Regional de Ciências Naturais de Turim, em Itália, e a plataforma Gondwana
Conservation and Research", conta.
Além de uma contribuição
determinante para a Ciência, a descoberta surge também como uma grande
realização pessoal para Gonçalo Rosa. "Sempre me interessei ao máximo
pelos mistérios e a magia da Natureza e a sua biodiversidade. Poder contribuir
desta forma para o seu melhor conhecimento e consequente conservação é sem
dúvida a minha maior motivação", sublinha o biólogo.
Gonçalo Rosa espera,
assim, que "o conhecimento gerado seja útil e possa ser posto em prática,
não ficando apenas guardado em prateleiras de bibliotecas a apanhar pó" e
destaca "a importância dos media e de outras plataformas de divulgação
para que o mesmo possa chegar de forma simples e acessível ao público".
Clique AQUI para aceder ao estudo publicado na Biodiversity and Conservation (em inglês).
Clique AQUI para aceder ao estudo publicado na Biodiversity and Conservation (em inglês).
[Notícia sugerida por Ana Guerreiro Pereira e Joana Ferreira Marques]
Fonte: Boas noticias
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